Diana Ribeiro Santos em 2021-2-12

NEGÓCIOS

O problema de dizer: Nunca mais!

A reentrada não planeada do ensino a distância está a levar à falta de PC em toda a cadeia do Canal. Podia tudo isto ter sido minimizado ?

O problema de dizer: Nunca mais!

São um milhão e duzentos mil os alunos dos ciclos primário e secundário mandados novamente para casa sem que tivesse existido um planeamento para esta contigência.

Na verdadeira génese deste problema está uma decisão estratégica do Governo tomada no verão passado: face à contração do PIB nacional no segundo trimestre em 16,5%, o Primeiro-Ministro tomou a decisão de “não voltar a confinar aconteça o que acontecer, e foi claro e transparente nesta resolução.

O problema de em política dizer “nunca” é não só ter de conviverer com embaraçosas declarações passadas, mas também não preparar as contigências futuras. Desde o grande incêndio de Pedrogão na primavera de 2017 ficou claro que o Primeiro-Ministro considera um evento disruptivo como um “azar pontual” e algo que não vai voltar a acontecer, logo não é necessário alterar o rumo. A segunda vaga de fogos no outono desse ano, mais mortal e muito mais destruidora, deveria ter constituído uma lição para que o pior pode sempre ainda  estar para acontecer.

Um novo paradigma

O ensino remoto é uma realidade e, apesar das circunstâncias com que foi implementado, tem trazido aspetos muitos positivos como é o caso da autonomia, responsabilidade e estratégias desenvolvidas pelos alunos, bem como pelos modelos de avaliação que tiveram de ser repensados, e de todo o processo digital inerente a esta nova realidade.

Por outro lado, é importante salientar a escassez e incoerência das linhas de ação para este ano letivo que já vai longo. 

A necessidade do distanciamento, do teletrabalho, das soluções colaborativas, do ensino online e da crescente digitalização de toda a sociedade, aumentou exponencialmente a procura de equipamentos que facilitem a mobilidade.

Posto isto, os desafios do ensino à distância estão de regresso. Grande parte das dificuldades sentidas atualmente prendem-se com o facto da grande maioria dos países se encontrarem na mesma situação face ao ensino à distância e ao trabalho remoto e, por isso, terem sido obrigados a comprar novos equipamentos.

A fita do tempo

Uma das grandes polémicas atuais relacionadas com o contexto do ensino à distância nasce de uma promessa feita pelo Governo quando, a 9 de abril de 2020, o Primeiro-Ministro assume que no início do ano letivo corrente “aconteça o que acontecer”, seriam assegurados os acessos às plataformas digitais, quer em rede, quer em equipamentos para alunos do básico e do secundário, abrangido assim mais de um milhão e cem mil alunos. 

Em junho do mesmo ano, o Concelho de Ministros autorizou a compra de computadores para alunos e escolas e, em agosto, o Ministério da Educação abriu esse mesmo procedimento de compra.

Já em setembro, o Ministro Tiago Brandão Rodrigues admitiu que os primeiros computadores seriam distribuídos apenas durante o período de aulas, assumindo assim que a promessa de Antonio Costa não seria cumprida. 

Como é do conhecimento público, só no final do novembro é que as primeiras unidades começaram a ser distribuídos a menos de 10% da população escolar.

O Governo garante a existência de um segundo lote de 335 mil computadores, mas o despacho para a compra destes computadores só foi feito em outubro e os contratos de compra assinados no final do ano. Resultado? Os equipamentos só chegarão aos alunos no final de março.

A par disto, o Ministério da Educação assinou mais um contrato para a compra de mais 73 mil computadores por 19 milhões de euros e, dada a situação atual, muitas são as escolas e câmaras municipais que também já avançaram com a compra de equipamentos.

A verdade é que este é um processo demorado e que se tem vindo a arrastar há algum tempo. Existem problemas de fornecimento a nível global devido ao contexto pandémico atual e ao facto da compra destes equipamentos por parte do Governo ter sido feita tarde demais, e muitos são aqueles que acreditam que tal ação se prende com o facto do Governo não acreditar na ideia de um segundo confinamento.

A nova realidade da indústria

São muitos os revendedores, das mais diversas dimensões, que admitem uma lacuna no stock de equipamentos. 

Nas últimas semanas, a Worten, por exemplo, tem vindo a registar um aumento significativo na procura de portáteis com as vendas a crescerem mais de 40%.

Esta maior procura pode afetar, pontualmente, algum do stock nas lojas físicas; nessas situações, caso o cliente precise imediatamente do portátil, o nosso compromisso é sugerir, desde logo, um modelo equivalente com stock em loja. Caso o cliente possa aguardar alguns dias, o vendedor encomenda online o modelo pretendido para posterior levantamento em loja”, indica um representante da Worten.

Por outro lado, “para quem opta por comprar em worten.pt, os prazos de entrega são muito convenientes: cerca de 50% das encomendas feitas na loja online estão a ser entregues no prazo de um dia e outros 40% em dois a três dias. Apenas 10% tem um prazo de entrega superior a três dias”.

Para a Fnac, as necessidades de um computador para telescola e teletrabalho são diferentes. Para telescola, a procura é maior em computadores com um nível de preço mais acessível, focado para as aulas à distância e para os trabalhos escolares, enquanto que, para o teletrabalho, os portáteis mais procurados são para renovar equipamentos mais antigos, com especial foco na capacidade de processamento e armazenamento. 

O fornecimento de portáteis tem sido constante em todas as marcas principais do mercado, como é o caso da HP, Asus, Lenovo, Acer e Huawei. No entanto, face à procura, existem momentos de rutura temporária especialmente nos preços de entrada (<400 euros) e entre os 600 e 800 euros”, refere a Fnac.

Neste momento, a indústria tem sofrido uma grande pressão, uma vez que esta precisa de, no mínimo, 90 dias para fazer a entrega de equipamentos. 

Para Nelson Arrifes, Head of Marketing and Web Content Manager da PCDiga, é um facto que “estamos novamente a passar por uma fase de grande procura por equipamento informático. Não só portáteis e computadores em geral, mas também monitores e webcams, por exemplo”.

Na PCDiga temos, de uma forma ou outra, conseguido prever estas fases de lockdown e devido a isso tentamos precaver-nos relativamente a stocks em categorias chave, mas continuamos a ter o problema da fraca capacidade de produção dos fabricantes face à procura atual do mercado global. Estamos a trabalhar em estreita colaboração com os maiores fabricantes do mercado para de uma forma ou outra amenizar o problema”.

Parte da Solução

Miguel Saldanha, PPS Channel Director da HP, acredita que esta elevada procura tem provocado dificuldades na produção mundial de computadores, por falta de vários tipos de componentes verificada ao nível dos fornecedores que produzem não só para a indústria de tecnologias de informação, mas também para outras indústrias.

Apesar de, na sua opinião, esta situação prolongar-se ao longo dos primeiros seis meses do ano, “a HP está empenhada em maximizar os equipamentos trazidos para Portugal e a prova disso é que no último trimestre de 2020, trouxemos mais 70% das unidades relativamente ao trimestre anterior e quase duplicamos o número de PCs, comparado com o período homólogo do ano anterior, fazendo com que tenhamos sido a marca que mais PC vendeu em Portugal ao longo de todo o ano”.

Luis Pires, Country Manager Tech Data Portugal, reforça o esforço feito pelos distribuidores e afirma que “a Tech Data, enquanto Parceiro das principais marcas de equipamentos informáticos, está a trabalhar em estreita colaboração com os fornecedores destes equipamentos, nomeadamente de portáteis e respetivos acessórios, de forma a reforçar os níveis de stock minimizando o impacto de possíveis ruturas. A equipa da Tech Data esta disponível para dar a melhor resposta às necessidades do mercado acompanhando os processos mais exigentes, dando apoio tanto aos fabricantes como aos Parceiros”.

Para a Databox, esta realidade estende-se a todo o mundo e à Europa em particular.
Os níveis de stock estão em níveis mínimos e o ensino é uma parte muito importante desta corrida à tecnologia, nomeadamente a portáteis e tablets.

Todas as marcas em todos os segmentos de produto vendem-se sem reservas de preços. Baratos, caros. Básicos e sofisticados. O mercado vai disponibilizar stocks intermitentemente, mas a disponibilidade plena tardará uns meses”, conclui José Manuel Aguincha, diretor da Databox. 

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