2025-6-23

CHANNEL ON

Women in Tech: “Há sempre uma dificuldade neste mercado, ainda hoje continuamos a senti-lo” (com vídeo)

Quatro Women in Tech aceitaram o desafio de subirem ao palco do Channel ON e partilharem a sua experiência e visão sobre as mais-valias e o papel que as mulheres podem assumir dentro do mundo do IT

Women in Tech: “Há sempre uma dificuldade neste  mercado, ainda hoje continuamos a senti-lo” (com vídeo)

A mesa-redonda “Women in Tech: Diversidade e Inclusão no Canal de IT” contou com participantes da Evonic, HP, IP Telecom e Kaspersky

“This is a man’s world”, já cantava James Brown, sem saber que esta mesma frase ainda se aplicaria aos dias de hoje a algumas realidades, entre elas o setor tecnológico.

O cenário começa, contudo, a sofrer algumas mudanças e a caminhar para uma maior diversidade e paridade de género. Foi neste contexto que Patrícia David, Sales & Marketing Manager da Evonic, Olívia Pinto, Distribution Business Manager da HP, Ana Gouveia, Diretora de Sistemas de Gestão e Cibersegurança da IP Telecom e Ana Silva, Territory Manager da Kaspersky, subiram ao palco do Channel ON para partilharem a sua experiência de diversidade e de inclusão no Canal de IT em Portugal.

“Onde senti mais dificuldades foi a nível das oportunidades de progressão de carreira. Vejo que tenho de provar muito mais do que qualquer par homem, muitas vezes em funções de similar responsabilidade”, começa por partilhar Ana Silva. A disparidade salarial foi, no caso da Territory Manager, também um obstáculo: “passei por uma entrevista onde me propuseram um ordenado part-time porque já estavam a prever que, por ser mulher, iria recorrer mais vezes a baixas e ter mais problemas de assiduidade”.

Olívia Pinto, da HP, afirma que teve “sorte” ao entrar no mundo da HP, onde estabeleceu contacto imediato com a tecnologia. “Houve alguns desafios, como o facto de ser a única mulher sempre praticamente em todos os grupos, mas também me fez sempre elevar um pouco mais, e eu queria mais. Essa é a parte que eu mais gosto neste mundo”.

O Cunho Feminino nas Equipas de IT

Enquanto Woman in Tech, Patrícia David procura levar uma “abordagem mais criativa e mais humana” à sua equipa, sem esquecer um ingrediente especial: “trazer o nosso sexto sentido para o mercado da tecnologia, juntar a isso as competências técnicas, as equipas e depois  fazer a autoestrada rumo ao sucesso dos projetos, embora haja sempre uma dificuldade neste mercado, ainda hoje continuamos a senti-lo”.

A Manager partilhou uma história pessoal que envolveu uma reunião entre a sua equipa, o fabricante e outros integradores do projeto em discussão e que serve de exemplo sobre os desafios que ainda se desdobram para as mulheres com cargos em empresas de tecnologia: “Na primeira reunião que tivemos para desenvolver a estratégia para o negócio, começámos a ler o desafio e rapidamente chegámos à conclusão de que havia algumas características técnicas que não eram tão favoráveis à nossa tecnologia e à do fabricante com quem estávamos a trabalhar. Entrámos todos na reunião já numa espiral negativa. E eu trouxe a minha abordagem positiva: ‘Vamos lá. Temos duas atitudes que podemos tomar: a primeira em que atiramos a toalha ao chão e desistimos, não vamos sequer ao projeto; a outra onde vamos procurar os pontos-chave, vamos desenhar a nossa arquitetura e vamos defendê-la todos juntos para conseguirmos demonstrar ao cliente que aquilo 
que nós temos para lhe oferecer é a melhor opção para o desafio que nos está a lançar”
.

Apesar do espírito positivo e da partilha de opinião com os restantes colegas da reunião, Patrícia revelou que acabou por ver a sua ideia a ser partilhada por um colega e logo aceite pelos restantes participantes.

“Se isto acontecesse o início da minha carreira eu ficava sentida, magoada. Hoje já não é assim. Desde que as coisas aconteçam exatamente da forma que nós achamos que devem acontecer, não interessa se tem de ser uma voz masculina a falar, se eu tenho de repetir a mesma coisa três vezes, se eu tenho de levantar a voz; o que interessa é acontecer, é a atitude e é o desenvolver desses projetos”, frisa Patrícia David.

Ana Gouveia recorre ao exemplo da colega de painel para explicar a diferença e as mais-valias que as mulheres trazem ao dia a dia das empresas: “a diferença não é sermos mais competentes, porque a capacidade não vem do género, mas é, por vezes, a forma de abordarmos os desafios. E a diversidade traz valor porque são ideias que são diferentes. Culturalmente fomos criados de maneira diferente, os homens e as mulheres, e quando estamos no âmbito profissional também trazemos essa bagagem”.

A Diretora de Sistemas de Gestão e Cibersegurança da IP Telecom considera que este fator de abordagem pode levar a uma liderança “um pouco mais empática, mais humana”, capacidades igualmente necessárias quando falamos de tecnologia.

“O exemplo que a Patrícia deu vai ao encontro de três palavras em que as mulheres acrescem: superação, imparcialidade e comunicação”, reitera Ana Silva, que destaca a superação diária em prol da necessidade. “A nível da imparcialidade, uma mulher líder pode ser muito exigente, mas é imparcial. Não fazemos distinção entre homem e mulher, valorizamos a opinião de igual valor. Mas a nossa comunicação tende a ser assertiva, motivacional e humanista”.

Igualdade: O Caminho que se Constrói Todos os Dias

Na experiência da Patrícia David e na própria Evonic, a procura pela “diversidade e busca de novas skills” começa logo no recrutamento. “Aquilo que nós procuramos quando estamos a fazer as entrevistas é pessoas com atitude com capacidade de aprendizagem”, detalha.

Ana Gouveia aponta para a necessidade de existir “uma estratégia consciente” de inclusão, com imparcialidade no recrutamento. “As equipas de seleção devem procurar a diversidade, mas depois de as mulheres entrarem na organização, há que manter também o foco no seu caminho. Aí é importante existirem outras mulheres que sirvam de exemplo, enquanto líderes ou não líderes, mas que tenham o seu papel na organização, que possam servir de alguma mentoria para também perceberem que, dando visibilidade a mulheres que já têm cargos de relevo, que elas próprias também podem projetar-se e trabalhar nesse caminho”.

Por outro lado, Ana Gouveia enaltece a capacidade de promoção com equidade: “normalmente as mulheres portuguesas não têm muita visibilidade naquilo que fazem, e uma avaliação de desempenho transparente, focada em metas, objetivos, com resultados mensuráveis, também é muito importante para estarmos em pé de igualdade numa organização”.

Numa altura em que o trabalho híbrido veio para ficar, as questões da inclusão e igualdade podem encontrar aqui alguns desafios. Ainda assim, Olívia Pinto acredita que o reconhecimento e o saber ouvir deve ser indissociável de estar ou não fisicamente presente no escritório. “Parte da empresa criar ferramentas para gerir as carreiras, tanto de um homem como de uma mulher”, defende.

Regressar ao Passado para Ajudar a Projetar o Futuro

Ao serem desafiadas para revisitarem as suas versões mais jovens e aconselharem-nas sobre o mundo do IT, Ana Silva reforçaria a necessidade de “manter o compromisso e a motivação”. “Tal como na vida pessoal, a vida profissional também traz certas dores de crescimento. Temos de ter um grande espírito de resiliência e provar às vezes muito mais do que os nossos pares homens. Aqui não se trata de só de igualdade; trata-se também de querermos ser escutadas. No caso da motivação, é não perder o sonho porque pode levar-nos a projetos e à concretização de coisas incríveis”.

Ana Gouveia não tem dúvidas sobre as ideias que gostaria de deixar à sua versão mais jovem: “uma mensagem que deixava logo à Ana era aprender a dizer não. É um sim a nós próprias e, às vezes, é importante distinguirmos onde devemos efetivamente focar o nosso esforço. E dizer não é muito difícil. Enquanto mulher, parece que não temos de fazer mais que os homens, parece que o dizer não significa que não estamos a aceitar o desafio. E às vezes só estamos a definir prioridades”.

Para Olívia Pinto, a sua própria filha é o reflexo daquelas que foram as suas escolhas há uns anos e o percurso que tem trilhado na tecnologia. A jovem pretende seguir as pisadas da mãe e chegar ainda mais longe.

Patrícia David escolheria pedir à sua versão mais nova para não desistir do caminho. “Vai ser difícil, vai ser um longo percurso. Aquela Patrícia que no décimo ano teve de escolher uma área – ciências com especialidade informática –, e que chega no primeiro dia de aulas e vê uma turma de 32 alunos onde só existem duas meninas…isto vai ser o teu futuro e o teu percurso ao longo da vida, mas, no fundo, todos aqueles desafios, todo aquele caminho menos lógico é aquele que nos traz os frutos mais saborosos”.

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