Tiago Monteiro, Consultant, Information & Technology, Michael Page em 2022-9-28

OPINIÃO

Liderança

O início de um novo ciclo tecnológico

Não é novidade para ninguém que o setor tecnológico se tem tornado uma das áreas mais atrativas ao longo das últimas duas décadas

O início de um novo ciclo tecnológico

Projetos inovadores, grandes investimentos e empregos bem remunerados fazem parte das headlines do mundo tech. A pandemia do coronavírus veio contribuir ainda mais para este crescimento, tendo existido um boom sem precedentes no recrutamento. Avançando dois anos neste cronograma, mais precisamente para abril de 2022, começaram a soar alguns alarmes vindos, sobretudo, dos Estados Unidos. Nessa altura, liam-se as primeiras noticias sobre layoffs e despedimentos em algumas das startups mais atrativas e mais bem avaliadas no mercado, como a Klarna e a BitPanda. À medida que esta onda de despedimentos se alastrou para outras startups e, inclusive, para a maior parte das gigantes tecnológicas, rapidamente se percebeu que estes exemplos não seriam uma exceção à regra. Empresas como a Netflix, Tesla e Microsoft replicaram os processos de layoff. Passado algumas semanas, começaram a surgir as primeiras ondas de choque na Europa e Portugal não foi exceção.

A pergunta mais frequente no meio de todo este caos e também, aquela que me parece mais óbvia é: mas, afinal, o que desencadeou tudo isto?

A resposta não é simples, mas podemos tentar encontrar algumas explicações nos acontecimentos recentes. Voltando a 2020, e ao início da pandemia, várias empresas do setor tecnológico depararam-se com um potencial extremamente elevado de crescimento. Nesse momento, foram muitos os investidores que se sentiram atraídos para injetar capital nas startups mais promissoras. Todos os investidores procuram duas coisas: serem pioneiros na descoberta da próxima “grande coisa” e ganhar o máximo de retorno financeiro com os seus investimentos. Essa sensação de urgência misturada com alguma ganância fez com que muitas empresas fossem avaliadas indevidamente quando ainda nem sequer tinham dado provas do seu verdadeiro potencial. Estas avaliações inflacionadas levaram a uma falsa sensação de crescimento, assistindo-se a contratações desproporcionais e mal planeadas e, em alguns casos, aos próprios fundadores das startups venderem parte das suas ações para encaixarem retorno financeiro imediato. Nessa altura, alguns analistas financeiros começaram a alertar para a possibilidade de todo este entusiasmo vir a ter repercussões negativas. Com praticamente todo o mundo parado, surgiu uma crise nas cadeias de abastecimento, o que teve um impacto negativo em algumas das “Big Tech”. O aumento dos juros e a inflação, o início da guerra na Ucrânia, a recessão económica e a consequente diminuição do poder de compra deram o empurrão final. O índice Nasdaq100 caiu 30% durante este ano, assistindo- se a quedas abruptas nos valores de mercado de algumas das maiores empresas do setor.

O caso da Klarna foi um dos mais mediáticos, tendo despedido cerca de 700 trabalhadores, o que representa cerca de 10% do seu total. Em Portugal, a Remote, um unicórnio português extinguiu cerca de 8% dos postos de trabalho e, à escala global, já foram mais de 70 mil as pessoas afetadas por esta crise apenas este ano.

No entanto, nem tudo são más notícias. Segundo especialistas do setor tecnológico, apesar da “crise” que se vem alastrando nos últimos meses, Portugal continua a ser um dos países mais apetecíveis para as empresas tech se instalarem. A mão de obra altamente qualificada aliada a excelentes estratégias de empreendedorismo e inovação, são dos principais motivos para as empresas continuarem a olhar para Portugal como um dos países mais atrativos para investir. Segundo dados de empresas de recrutamento, o primeiro semestre deste ano apresentou um aumento substancial de pedidos de recrutamento comparando com o mesmo período de 2021. O mercado português continua dinâmico e as perspetivas de crescimento mantêm-se inalteradas.

O desenvolvimento da inteligência artificial, da robótica e da automação trazem também perspetivas otimistas para o setor tecnológico, com um efeito bastante positivo no aumento da produtividade de determinados setores, como por exemplo, saúde, indústria e retalho. Numa perspetiva a médio-longo prazo, Portugal apresenta um elevado potencial de automação, prevendo-se que metade das tarefas que têm potencial de ser automatizadas o sejam até 2030. Tal, terá um impacto no crescimento económico e no desenvolvimento destes setores que, como consequência, criarão oportunidades de emprego para centenas de milhares ou até mesmo milhões de pessoas.

As flutuações no mercado tech são cíclicas e é natural que haja momentos menos bons - os denominados “bear market”. No entanto, espera-se que a maior parte das empresas que sofreram com esta quebra do mercado sejam capazes de a superar e, alcançando alguma estabilidade, poderão planear um crescimento mais sustentável para os próximos anos.

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