Tatiana Leitão da Silva, Senior Consultant Information Technology, Michael Page em 2019-12-30

OPINIÃO

Liderança

Inteligência artificial na avaliação de pessoas: ajuda ou ameaça?

A inteligência artificial promete optimizar processos como a avaliação de pessoas em Recursos Humanos, mas dificilmente conseguirá algum dia substituir o contributo emocional humano no que toca à escolha do candidato ideal

Inteligência artificial na avaliação de pessoas: ajuda ou ameaça?

Tatiana Leitão da Silva, Senior Consultant Information Technology, Michael Page

A inteligência artificial não é uma novidade, mas é um dos temas mais comentados e tendência hoje em dia. Já passaram mais de sessenta anos desde que o “pai” desta área de estudo da computação – o cientista norte-americano John McCarthy, em 1956 – se convenceu de que podia fazer as máquinas pensar. Como se sabe, a ideia de que a tecnologia pode vir a substituir o Homem não é nova, mas não é por isso que deixa de levantar questões, paradigmas e reticências no meio laboral. Tudo porque a simulação do pensamento humano, bem como a capacidade de processamento e classificação de grandes volumes de dados, características apontadas à inteligência artificial, são frequentemente vistas como uma ameaça à acção humana em vários processos e atividades.

Nos Recursos Humanos é possível observar- se um dos principais exemplos de como o uso desta conceito pode ter implicações em processos chave, nomeadamente no âmbito da avaliação de candidatos. No entanto, no recurso à inteligência artificial este tipo de procedimentos também pode abrir caminho para a sua otimização, reduzindo – ou até mesmo eliminando – o tempo dedicado pelos recrutadores a tarefas repetitivas com duração mais longa como a análise dos currículos.

Conclui-se então, que esta nova versão mais automatizada do processo de avaliação de pessoas tende a poupar ao recrutador as tarefas mais repetitivas e demoradas, o que permitirá investir o seu tempo noutras tarefas mais estratégicas, como a interação direta com os candidatos ou a avaliação das suas soft skills, inteligência emocional e situacional, uma parte do processo cada vez mais importante e essencial e que nunca deverá ser negligenciada.

A razão desta realidade é simples e até pode ser considerada algo contraditória. É que por muito que uma máquina seja eficiente, nada poderá substituir o palpite, o instinto, a empatia, a sensibilidade, o “sexto sentido” humano. Na realidade, não há, pelo menos para já, tecnologia que possa assumir completamente e por inteiro o lugar do especialista em Recursos Humanos de carne e osso, mesmo correndo- se o risco da imprevisibilidade do humor e do estado de espírito do ser humano, podendo este ter acordado de mau humor no dia da entrevista.

O processo de avaliação de pessoas pode ser tão complicado como um jogo de xadrez. É necessário que haja uma definição de objectivos, desenvolvimento de estratégias por meio de tácticas e a escolha das melhores combinações para atingir o propósito final, isto é, conseguir fazer uma boa seleccção, separando o “bom” do “menos bom”. Contudo, é aqui que, geralmente, surgem as dúvidas sobre o contributo que os mecanismos e tecnologias de inteligência artificial podem trazer ao processo de recrutamento de profissionais, nomeadamente na fase da primeira triagem dos candidatos. Embora o uso deste tipo de tecnologia seja uma tendência quase indiscutível para os próximos anos, acaba por ter as suas limitações, não leva em conta logo à partida, todos os candidatos que não se incluem nos parâmetros definidos pelo software.

Assim, nos Recursos Humanos, o contributo emocional é incontestável. Ainda que uma análise mais futurista aponte para que o papel do recrutador assuma uma posição de menor relevo no processo avaliativo, não é possível avaliar seres humanos sem recorrer a seres humanos. Apesar de a tecnologia fazer agora parte da realidade da maioria das organizações e dos seus trabalhadores, é preciso equilibrar os dois pratos da balança, entre o trabalho que pode ser poupado aos recrutadores e o efetivo peso que a sua avaliação tem, nomeadamente ao nível das competências comportamentais ou soft skills, fator indiscutivelmente diferenciador na seleção de candidatos e que terá cada vez mais importância com o aumento da automatização das tarefas.

Concluindo, o eterno duelo entre o Homem e a máquina irá continuar. Qual deles o melhor recrutador do amanhã, ou será que continuarão a ser complementares? Apenas o futuro poderá dizê-lo.

por Tatiana Leitão da Silva, Senior Consultant Information Technology, Michael Page

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