Jorge Bento em 2025-6-16
Quando escuto um político do status quo falar em reformar o Estado, vejo um obeso com os lábios sujos de chocolate a falar sobre boa nutrição. Prometer a reforma do Estado tornou-se um clássico da política portuguesa. Agora, com o novo governo a criar um Ministério da Reforma do Estado, volta a esperança de uma administração mais eficiente e moderna. Mas, como tantas vezes antes, a desconfiança impõe-se
Com mais de 758 mil funcionários públicos — um recorde histórico atingido já por Luís Montenegro — o setor público representa mais de 15% da população ativa, valor idêntico ao de Espanha e Irlanda. Mas há uma diferença fundamental: eficiência. Por exemplo, no ranking europeu de digitalização dos serviços públicos, Portugal ocupa o 14.º lugar. Já Espanha é 5.ª e Irlanda está em 11º. A dimensão relativa da máquina pública pode ser semelhante, mas a produtividade e a maturidade digital claramente não o são. Criar um ministério dedicado à reforma é, em teoria, positivo. Mas só terá impacto se for acompanhado de coragem para enfrentar o imobilismo interno, os bloqueios sindicais e uma cultura corporativa que resiste a qualquer tentativa de mudança no deep state. O problema é que o Governo, no programa agora apresentado, nem tenta propriamente reformar. O objetivo parece ser mais o de otimizar — mas sem incomodar demasiado a gorda máquina pública. Focando apenas na transformação digital do Estado, o programa tem, ainda assim, algumas intenções positivas:
Resta saber o que destas intenções terá tração para ser realmente implementado. O setor tecnológico conhece bem essa realidade: lida, diariamente, com uma máquina pública anacrónica. Aqui, os Parceiros podem ser muito mais do que fornecedores — podem ser aceleradores de mudança. Com coragem política e know-how, talvez ainda seja possível reformar — de verdade.
Diretor do IT Channel |