Henrique Carreiro em 2019-12-04

OPINIÃO

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A supremacia quântica

A investigação em torno da computação quântica tem sido alvo de intenso interesse desde há alguns anos e tem gerado muitas discussões em relação às possíveis aplicações desta tecnologia

A supremacia quântica

Mas anúncios recentes mostram que a corrida à sua viabilização está a acelerar. Os computadores quânticos são melhores em cálculos complexos, desafiantes até para os supercomputadores mais poderosos da atualidade. Os computadores quânticos podem ser usados para simular interações químicas e biológicas, procurar números primos ou quebrar códigos criptográficos complexos. A NASA e o Google têm vindo a trabalhar colaborativamente num projeto de computação quântica e a Google anunciou, em outubro, que, pela primeira vez, um computador quântico usou propriedades quânticas para superar uma máquina clássica numa tarefa específica, atingindo assim a chamada Supremacia Quântica. Mas este resultado não foi publicado em nenhuma revista científica e portanto os resultados não foram ainda sujeitos a validação independente.

O computador quântico estava a competir com um computador clássico de elevada capacidade. O computador quântico ganhou a competição, mas a magnitude de quão rapidamente produziu os resultados pode ser surpreendente. O resultado obtido levou 200 segundos, em comparação com os dez mil anos que um supercomputador clássico levaria. Ainda que os resultados não tenham sido confirmados, o que todos os especialistas concordam é que os computadores quânticos estão longe de estarem prontos para uso comercial. John Preskill que criou a expressão Supremacia Quântica em 2011 afirmou, a propósito do resultado da Google: “o problema que a máquina resolveu com velocidade surpreendente foi cuidadosamente escolhido apenas com a finalidade de demonstrar a superioridade do computador quântico.” Um computador quântico que tenha pelo menos 1.500 qubits lógicos pode ser capaz de resolver os problemas matemáticos que sustentam as criptomoedas, por exemplo. O computador da Google, conhecido como Sycamore, usa 53 qubits, e foi desenvolvido após um computador de 72 qubits se ter mostrado muito difícil de controlar. Dimensionar computadores quânticos não é tarefa fácil e, pelo menos por enquanto, é seguro assumir que a decodificação de dados ainda está a muitos anos de distância.

A preocupação quanto aos computadores quânticos poderem quebrar as cifras que suportam as transações na Internet são, por mais alguns anos, infundadas. Contudo, ninguém sabe por quantos o serão, sobretudo pela incógnita sobre o real estado de desenvolvimento dos computadores quânticos na China. É que, segundo a empresa de análise de patentes Patinformatics, é a China que lidera atualmente esta área, tendo em consideração o número de patentes registadas relativamente à implementação da tecnologia quântica. Houve 492 patentes relativs a computação quântica registadas pela China em 2018, mais do que as dos EUA (248), Japão (30), Coreia (45) e União Europeia (31) juntas. E enquanto a Google se congratula pelo seu feito (que é notável, sem dúvida), não seria de espantar que, nalguma instalação ultrassecreta na China, um outro computador quântico esteja a obter resultados com os quais, no Ocidente, apenas se consegue sonhar.

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