Rui Damião em 2025-5-07

VENUE

O IT Channel viajou até Sines a convite da Schneider Electric

“Para ter sucesso na nova era da IA, os data centers precisam de otimizar a capacidade e eficiência da energia”

O consumo de energia por parte dos data centers não vai diminuir; bem pelo contrário. Numa altura que a inteligência artificial vai fazer crescer esse mesmo consumo, a IA também pode ajudar a tornar o consumo de energia mais eficiente

“Para ter sucesso na nova era da IA, os data centers precisam de otimizar a capacidade e eficiência da energia”

A Schneider Electric organizou mais um evento europeu com a imprensa, desta vez em solo português. O Start Campus, localizado em Sines, foi o palco deste evento que reuniu jornalistas de vários países da Europa para ouvir sobre as inovações das duas empresas e sobre a construção das fundações para Inteligência Artificial (IA) sustentável. O IT Channel viajou até Sines a convite da Schneider Electric.

Pankaj Sharma, Executive Vice President, Secure Power & Data Centers and Global Services Business da Schneider Electric, foi o primeiro a falar no evento para abordar o futuro da inteligência artificial. O ritmo da adoção do digital e, particularmente, da IA generativa tem levado a um crescimento da procura por data centers, numa altura em que três mil milhões de pessoas vão precisar de aceder a eletricidade até 2050. Assim, “a IA é a próxima revolução industrial que toca todos os aspetos da nossa vida”, afirma, acrescentando que se estima que o mercado de IA generativa atinja os 1,3 biliões de dólares até 2032.

A IA precisa de utilizar energia, mas também a pode ajudar a otimizar”, explica Sharma. O executivo da Schneider Electric defende que a inteligência artificial é vital para a descarbonização das indústrias e dá como exemplo um sistema de refrigeração num edifício educacional que, com a ajuda de inteligência artificial, foi possível reduzir em 8,93% os consumos de eletricidade.

O consumo de eletricidade dos data centers e a disponibilidade [da energia] serão a chave” da implementação da IA. Na Europa, por exemplo, existem limitações da rede e uma forte regulação que pode abrandar a implementação de data centers. No entanto, existe um mercado de data centers “vibrante” que levou a um crescimento do pipeline da Schneider Electric de 24,4% em 2024.

A implementação de inteligência artificial “traz os seus desafios para o mercado de data centers” em termos de capacidade, disponibilidade de espaço, custos de arrendamento e o design dos próprios data centers. Apesar destes desafios, “espera-se uma maior procura por data centers” com uma procura estimada de mais 150 GW de capacidade para os próximos cinco anos em todo o mundo.

A nova era dos data centers

Marc Garner, Senior Vice President, Cloud & Service Provider Segment da Schneider Electric, aproveitou para falar da nova era dos data centers, que chega “com uma grande flexibilidade” não só por causa da inteligência artificial, mas porque a “cloud tradicional” vai continuar a ter o seu espaço no mercado.

Atualmente, explica Garner, os donos e operadores de data center estão a planear para uma maior incerteza, procurando garantir flexibilidade dos data centers para manter uma rápida evolução no mercado. Ao mesmo tempo, é preciso garantir operações rápidas e de confiança dentro dos limites operacionais, é preciso construir em escala para estar na liderança da IA. Assim, é necessário um design end-to-end pensado para inteligência artificial.

Este design começa no GPU e nas necessidades dos chips para que o data center tenha os requisitos necessários para que os chips funcionem da melhor forma possível. Para além da disponibilidade de energia, também é necessário ter soluções de refrigeração eficientes para correr os workloads de inteligência artificial.

Para ter sucesso na nova era da IA, os data centers precisam de otimizar a capacidade e eficiência da energia, implementar uma infraestrutura de alta densidade e melhorar as práticas de sustentabilidade”, defende Marc Garner. Ao mesmo tempo, a estratégia de energia para a era da inteligência artificial passa pelo procurement de energia, a geração de energia no local, recursos de backup e bateria para utilizar a energia na altura certa e, por fim, gerir as várias fontes de energia. Ao acelerar as estratégias que já são conhecidas, defende Marc Garner, é possível cortar a utilização de energia por parte dos data centers em 16% até 2030.

A refrigeração dos data centers

Andrew Bradner, Senior Vice President Cooling Business da Schneider Electric, reconhece que a Schneider Electric não é conhecida pelas soluções de refrigeração, mas já conta com uma história superior a 50 anos – nomeadamente com a aquisição da APC e, mais recentemente, da Motivair – em soluções de refrigeração.

O mercado de data centers não é estático e o futuro – que passa pela inteligência artificial – precisa de tecnologia de refrigeração líquida. A aquisição recente da Motivair vai ao encontro a essa necessidade e tem como objetivo apoiar a evolução acelerada da computação com uma linha de produtos, com conhecimento, com serviços robustos e capacidades de industrialização sem paralelo.

Atualmente, a Schneider Electric tem um portfólio de refrigeração completa e uma arquitetura de sistema end-to-end que assegura fiabilidade. A empresa tem soluções de refrigeração líquida, como referido, mas também refrigeração por ar e heat rejection. A Schneider Electric conta, ainda, com soluções que apoiam o cliente em toda a jornada para esta realidade, até porque “não há uma solução one size fits all” em termos de soluções de refrigeração, explica Andrew Bradner.

O mercado europeu (e ibérico)

Pablo Ruiz-Escribano, Senior Vice Presidnt for Secure Power & Data Centers Europe da Schneider Electric, refere que a Europa “apresenta um mercado de data center dinâmico” e vai “tornar-se num player chave na economia digital”. Há uma necessidade de acelerar a colaboração entre o setor público e privado, aumentar a colaboração com as empresas de utilities para assegurar resiliência e acesso a energia e, por fim, desenvolver talento para gerir esta infraestrutura que está em constante crescimento.

Geograficamente, a Europa está conectada com mercados maduros e em crescimento e é comprometido com a sustentabilidade: existe o Green Deal da União Europeia, a Diretiva de Energia Europeia (EDD, na sigla em inglês) e o pacto climático de data centers neutros até 2030.

Em relação ao mercado ibérico em específico, Jordi Garcia, Vice President for Secure Power & Data Centers Iberia também da Schneider Electric, diz que o mercado é cada vez mais atrativo. Em Portugal, 71% do consumo de eletricidade em 2024 foi feita através de energias renováveis e existe o objetivo de fazer crescer essa percentagem até 93% até 2030.

Ao mesmo tempo, Portugal tem ligações diretas com a Europa, com África e a América do Norte e do Sul através de 14 cabos submarinos, assim como uma penetração de 71% de fibra ótica para as casas e edifícios em Portugal, a terceira maior da Europa. Em termos de procura de energia, o mercado ibérico de data centers precisa de 2.8 TWh, o equivalente a 1% do mercado global em 2024. “Estima-se um pipeline de dez mil milhões de euros para data centers em Portugal até 2030, com o Start Campus a ser o maior e mais sustentável da Europa”, afirma Jordi Garcia.

Start Campus

Rob Dunn, CEO da Start Campus, apresentou aos jornalistas o “maior e mais sustentável ecossistema de dados da Europa”. O Start Campus será composto por seis edifícios com uma capacidade de IT de 1.2GW e será o maior local de colocation na Europa, com um PUE de 1.1 – abaixo da média da indústria – que é atingido com “uma solução de refrigeração altamente eficiente”.

As operações começaram em outubro de 2024 e tem uma operação de 14MW desde o quarto trimestre de 2024. Para já, apenas o SIN01 – o primeiro edifício – está operacional e os próximos cinco edifícios vão ser construídos nos próximos anos, com a capacidade de rede completamente assegurada. O SIN02 será lançado na segunda metade de 2025. O data center da Start Campus está ligado ao mar que permite retirar água do mar para refrigerar o data center e, assim, baixar o consumo de energia.

Omer Wilson, Chief Marketing Officer da Start Campus, explica que há um “crescimento na potência dos GPU e na rapacidade dos racks”. Há uma disrupção que não é apenas provocada pela inteligência artificial, mas também pelo IoT e pelo M2M, ou machine-to-machine.

O Start Campus vai utilizar água do mar e, depois, devolver essa mesma água ao mar, não desperdiçando a água. Na teoria, não há utilização de água por parte do data center de Sines, uma vez que a mesma volta para o mar. Para isso, o data center vai utilizar parte da infraestrutura da antiga central a carvão de Sines para atingir este objetivo.

Há cerca de dois anos não se pensavam em data centers de 1GW, mas esta é agora uma realidade. Os workloads de IA e o crescimento do digital de uma forma geral estão a aumentar a capacidade necessária dos data centers. Se a sustentabilidade e a gestão eficiente de energia não estiverem na mente de quem gere e opera estes data centers, a próxima era da computação terá um elevado custo para o planeta.

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