Tatiana Leitão Silva em 2015-9-21

OPINIÃO

A mobilidade do mercado de trabalho

A proliferação e evolução dos dispositivos mobile permite que se trabalhe em praticamente qualquer lugar. A possibilidade de transportar e aceder a todas as informações e dados necessários torna-se viável com a oferta de serviços cloud a aumentar de dia para dia.

A mobilidade do mercado de trabalho

Tatiana Leitão Silva, Consultora da Michael Page Information Technology em Lisboa

O barómetro de tecnologias da informação lançado pela Michael Page em Julho de 2015 apresenta um resultado claro: 90% dos candidatos estão disponíveis e interessados numa eventual mudança de localização. Sendo que mais de metade destes avalia uma mudança a nível internacional. Há que ter em conta que o universo inquirido, maioritariamente masculino, está inserido num enquadramento médio a superior, com a maioria a ter uma idade compreendida entre os 36 e os 40 anos.

São cada vez mais comuns as oportunidades profissionais que requerem disponibilidade para deslocações a nível nacional ou internacional. Esta tendência está intimamente ligada com a procura de novos mercados pelas empresas nacionais, em todos os sectores, e com a centralização de departamentos ou centros de desenvolvimento em determinadas cidades.

A, cada vez mais comum, criação de centros de nearshore ou offshore em Portugal, sobretudo em cidades do interior, por empresas de referência, leva a que grande parte dos profissionais veja uma mudança geográfica a nível nacional como uma possibilidade de evolução profissional. Existem também casos de empresas internacionais que começam a desenvolver importantes áreas de negócio no nosso país, o que leva à necessidade de deslocações a nível internacional, por vezes ascendendo a 80% do tempo.

No entanto, outra das grandes tendências atuais e com propensão a aumentar é o trabalho remoto, a partir da residência ou outro local em qualquer horário, a mobilidade total. O número de candidatos com preferência por oportunidades em que o trabalho remoto seja uma possibilidade tem aumentado, sobretudo em perfis que têm residência fora dos grandes centros populacionais, havendo deslocações esporádicas quando necessário à empresa. Sendo que também cada vez mais as empresas permitem e dão essa liberdade aos colaboradores. Isto permite a redução de alguns custos fixos que as empresas apresentam e a perceção de que para algumas posições não há necessidade de presença física. Em Portugal, algumas empresas tecnológicas já começam a dar a possibilidade de trabalhar remotamente por alguns dias da semana e é uma iniciativa bem-vinda.

A proliferação e evolução dos dispositivos mobile permite que se trabalhe em praticamente qualquer lugar. A possibilidade de transportar e aceder a todas as informações e dados necessários torna-se viável com a oferta de serviços cloud a aumentar de dia para dia.

Hoje, com a utilização de tablets, smartphones ou ferramentas para a realização de conference calls, por exemplo, é possível realizar praticamente qualquer função que se realizaria num escritório. Surgem cada vez mais empresas que aderem a esta realidade e já existem empresas onde todos os trabalhadores trabalham remotamente. Esta deverá ser uma tendência a aumentar no decorrer dos próximos anos.

A mobilidade permite que os colaboradores tenham flexibilidade de decisão do seu horário de trabalho, pois cada pessoa tem noção de quando é mais criativa e consegue produzir mais e melhor. Nos casos de colaboradores que têm uma clara tendência para melhor produzir no típico horário não habitual, à noite por exemplo, a mobilidade torna-se um fator bastante interessante e atrativo, podendo ajudar numa decisão de futuro profissional. 

Como em tudo, existe um lado positivo e um lado negativo. Se, por um lado, os colaboradores poderão estar mais descontraídos e produtivos devido a toda a flexibilidade proporcionada pela mobilidade, por outro lado, há quem não consiga não seguir normas e regulamentos e necessite de ter uma realidade profissional convencional.

Em relação ao vínculo laboral e condições, esta nova realidade poderá aumentar a precariedade e o risco de desemprego, bem como ter impacto negativo nas condições salariais apresentadas. O vínculo laboral poderá mudar e seguir a tendência de trabalho autónomo ou independente. O facto de o colaborador não se apresentar fisicamente no escritório pode também levar ao afastamento entre colegas e à não criação de relações que são benéficas num local de trabalho.

Mas como noutros casos, faz parte da evolução do ser humano e há que definir estratégias e iniciativas para apoiar este tipo de realidade, que está a aumentar.
 

Tatiana Leitão Silva
Michael Page IT

 

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