2022-3-10

BIZ

A onda de choque nos mercados globais da invasão à Ucrânia pela Rússia

A Canalys reflete sobre as consequências e desafios da guerra e das sanções implementadas, não só para as economias russa e ucraniana, mas também para ocidentais

A onda de choque nos mercados globais da invasão à Ucrânia pela Rússia

A invasão da Ucrânia pela Rússia faz lembrar um século XX de terror e uma Guerra Fria que desencadeou uma divisão entre o Ocidente e o Oriente. Segundo a Canalys, as ondas de choque económico já se fazem sentir a nível global, no seguimento de diversas sanções económicas, comerciais e financeiras lançadas pelo ocidente. O efeito pretendido de isolar a Rússia da economia global parece ser bem-sucedido, mas com ele surgem, também, repercussões para as restantes economias, já enfraquecidas pela crise pandémica.

Em causa está, por exemplo, a inflação (antes da invasão, a Zona Euro já registava uma inflação de 5,8%), com o aumento dos preços da energia na Europa, fortemente dependente do petróleo e gás russos. De acordo com a Canalys na última semana, o preço do petróleo subiu para mais de 110 dólares por barril, o preço do gás natural subiu 62%, mercados financeiros caíram e a cadeia de valor está, agora, ainda mais vulnerável.

Na indústria dos semicondutores, calculava-se que os constrangimentos perdessem força em 2022, tendência que parece estar, agora, distante, pelo que a Ucrânia fornece mais de metade do gás néon do mundo, vital para a produção de chips. As disrupções do fornecimento de vendedores através da ferrovia transiberiana da Rússia, que se tornou uma alternativa rentável ao transporte aéreo da Ásia, já está a contribuir para atrasos significativos nas transferências para o Canal europeu, diz a Canalys. 

As consequências dos atos

A Canalys indica que é neste contexto que o setor tecnológico e o Canal deverão ser fortemente afetados pela crise resultante da invasão à Ucrânia. O colapso da moeda russa e a subida das taxas de juro pelo Banco Central russo resultarão no aumento dos preços dos produtos tecnológicos na Rússia, limitando, simultaneamente, o poder de compra dos clientes.

Adicionalmente, as sanções norte-americanas e europeias sobre as exportações para a Rússia de produtos tecnológicos, incluindo semicondutores, e certos produtos de software, computação e telecomunicações, atingirão os fornecedores que fornecem à Rússia e aos Parceiros de Canal que os vendem. Mais, vendedores russos ou afiliados com presença internacional, como a Kaspersky, estão suscetíveis a serem prejudicados por associação, e as disrupções terão impacto nos distribuidores e players de Canal que operam em toda a região oriental, enumera a Canalys.

Accenture, Apple, Cisco, Dell, HP, HPE, Oracle, SAP e TSMC são alguns dos players tecnológicos numa crescente lista de empresas internacionais (em todos os setores) que cortam laços com a Rússia, refere a Canalys – e aqueles que não o fizerem ficarão mais distanciados dos restantes. As vendas e receitas russas diminuirão substancialmente no atual trimestre (e potencialmente nos futuros).

Além disso, os investimentos tecnológicos do setor público russo, que continua a ser o maior impulsionador das despesas de IT, e as empresas pertencentes ao Estado assistirão a quedas significativas nos próximos trimestres, assim como as PME e os gastos dos consumidores.

E do outro lado da barricada, a China, que declarou oficialmente a sua oposição perante as sanções às importações russas de tecnologia – e sendo ela própria vítima de inúmeras sanções comerciais –, poderá assumir o papel de colmatar a falta de acesso da Rússia à tecnologia, substituindo as marcas ocidentais e mantendo o acesso russo a tecnologias-chave.

De acordo com a Canalys, os grandes vencedores serão vendedores chineses como a Huawei, mas a situação complica-se para empresas como a Lenovo – que gera a maioria das receitas fora da China e alegadamente já deixou de enviar para a Rússia (mas ainda não fez uma declaração oficial) –, para a Oppo e a Xiaomi, que ou já têm operações significativas no Ocidente ou têm essa ambição. Por outro lado, a proibição das exportações de semicondutores para a Rússia deverá reforçar a determinação da China em reforçar a sua própria autonomia de fabrico de semicondutores, reflete a Canalys. 

O mercado de PC tem assistido a um ciclo de expansão nos últimos anos – altamente vulnerável, contudo, às disrupções da cadeia de valor. Contudo, tal como as restantes tecnologias, deverá sentir o impacto direto da invasão e os vendedores que tiverem capacidade de fornecimento poderão ter sucesso no mercado, afirma Trang Pham, research analyst da Canalys. Já do lado da procura, os consumidores também deverão enfrentar desafios com a inflação e menos poder de compra, especialmente para fins de lazer. 

Invasão do ciberespaço

A Rússia tem ilustrado o poder do cibercrime nos conflitos modernos. Inicialmente, a invasão aparentava ser apenas à fronteira cibernética russa, com a Rússia a lançar campanhas maciças e coordenados de ciberataques contra as infraestruturas críticas ucranianas. Como forma de retaliação às sanções, os ataques patrocinados pelo Estado russo também se intensificaram contra outros alvos ocidentais. Assim, a Canalys prevê que os ciberataques aumentem de forma massiva em ambos os lados da barricada. A Rússia, e aliados, podem procurar visar infraestruturas críticas, como redes de energia, fornecimento de água e redes de transporte, para semear o caos, numa alternativa a uma ação militar.

Por outro lado, os ataques contra a Rússia também aumentaram, tanto por Estados-nação ocidentais como por ativistas independentes, como o Anonymous. A tendência resultou na decisão da UE de reunir uma equipa de ciberperitos para tentar combater os ataques russos à Ucrânia, por exemplo, e a indústria da cibersegurança deverá ser um dos beneficiários da crise devido à alta procura por tecnologias de combate. 

Canais B2B, consumo e pagamentos

Os Canais integradores e revendedores russos, fortemente dependentes do setor público e dos gastos empresariais, deverão entrar em colapso de vendas nos próximos trimestres, afirma a Canalys. Também a distribuição será igualmente afetada, indicam.

Os preços da tecnologia deverão aumentar; os sistemas de pagamentos foram atingidos pelas sanções aos principais bancos russos, enquanto as elevadas taxas de juro limitarão os empréstimos e o crédito – limitando de forma severa a liquidez no Canal, em particular no setor do consumo. A Canalys indica que para o setor do retalho russo “este é o golpe mais devastador”. A desvalorização do rublo eliminou poupanças a consumidores russos, enquanto os preços de venda a retalho dispararam e perderam o acesso a sistemas de pagamentos como o Apple Pay e o Google Pay.

Nesse sentido, a Canalys nota que os pagamentos em criptomoedas vão aumentar na Rússia, como forma de substituir a moeda russa, em declínio. Contudo, poderá ser uma tendência a curto prazo, com os reguladores dos EUA e da Europa a virarem a sua atenção para as criptomoedas. Entretanto, as soluções de pagamento móvel chinesas assistem a uma nova oportunidade de ascensão, como a Alipay e a Wechat.

Contudo, nem todos os efeitos deverão ser negativos. Por um lado, a indústria tecnológica pode assistir a um aumento dos gastos, em áreas como a defesa e a cibersegurança; e os elevados preços do petróleo e do gás, deverão impulsionas a indústria das energias renováveis. Mais, o fim do fornecimento de IT ao mercado russo pode significar mais oferta para outros mercados que enfrentavam escassez, ajudando os Parceiros de Canal a reporem os atrasos nas vendas. 

Finalmente, a Canalys reflete sobre a preparação das economias globais para períodos de disrupção. “A pandemia global, seguida de um conflito europeu em crescimento, pôs em evidência a dificuldade do planeamento das empresas face à intensa imprevisibilidade. Agora, como o mais horrível dos cenários – o conflito nuclear – se torna uma perspetiva possível (embora esperançosamente improvável), os líderes empresariais devem estar preparados para considerar eventuais eventualmente impensáveis”, conclui.

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