Inês Garcia Martins em 2025-5-16

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Dos dados às decisões: o papel do software empresarial

Num mercado pressionado por eventos inesperados e uma concorrência global crescente, o software empresarial em Portugal assume um papel estratégico. Perante sistemas ainda fragmentados, a integração tecnológica e o uso de inteligência artificial surgem como pilares para garantir resiliência, agilidade e competitividade. O setor responde com soluções cada vez mais avançadas, centradas na cloud, na análise inteligente de dados e no apoio à decisão em tempo real

Dos dados às decisões: o papel do software empresarial

O dia 28 de abril de 2025 ficará na história como um dos que pôs à prova a resiliência digital da Europa. O apagão que paralisou Portugal, Espanha e outras regiões europeias não afetou apenas a rotina dos cidadãos e o funcionamento das infraestruturas críticas – expôs, uma vez mais, a fragilidade de muitos sistemas empresariais que continuam a operar com soluções desconectadas e dados isolados. Num mercado onde a agilidade e a competitividade dependem de decisões rápidas e informadas, confiar em dados e apostar em ecossistemas integrados deixou de ser apenas uma opção tecnológica: é uma exigência do negócio.

 

Céu Mendonça, Executive Director Global Partner Solutions da Microsoft

“O setor de software empresarial em Portugal está a passar por uma transformação significativa, impulsionada pela adoção de tecnologias emergentes como cloud computing, inteligência artificial e automação”, afirma Céu Mendonça, Executive Director Global Partner Solutions da Microsoft. Essa evolução exige maior adaptação e resiliência por parte das empresas. Hugo Oliveira, Partner & Ecosystem Director Iberia da Sage, confirma que “o setor continua a acelerar a transformação digital, impulsionado pela necessidade de agilidade e adaptação num contexto empresarial em constante mudança”.

A inteligência artificial como motor estratégico

A necessidade de se manterem competitivos num contexto em constante mudança e a procura por resiliência e crescimento sustentável levou os decisores portugueses a uma conclusão clara: a tomada de decisões informadas, baseadas em dados, é fundamental. Os decisores estão a confiar cada vez mais em dados para guiar as suas estratégias, o que, de acordo com Céu Mendonça, impulsiona a procura por soluções tecnológicas avançadas que permitam às organizações analisar grandes volumes de dados em tempo real, identificar padrões e gerar insights acionáveis.

Tiago Esteves, Principal Solution Engineer da Salesforce

 

Tiago Esteves, Principal Solution Engineer da Salesforce, destaca que “assistimos a uma mudança de paradigma na forma como as organizações utilizam o software, e isto deve-se aos avanços significativos na inteligência artificial, especialmente através da integração de agentes de IA”. Estes agentes, explica, são “sistemas inteligentes capazes de executar tarefas de forma autónoma e adaptativa”, que promovem uma maior colaboração homem-máquina e libertam tempo para tarefas estratégicas e criativas.

Segundo o relatório “State of Service 2024” da Salesforce, “em 2024, cerca de 72% das empresas de serviços em Portugal já utilizam ou estão a considerar o uso de IA, e 81% planeiam investir nesta tecnologia”. Nas PME, 65% já utilizam ou estão a experimentar IA, e 88% das que a implementaram reportam aumentos de receita. A aplicação da tecnologia vai desde a otimização de campanhas à qualificação de leads com ferramentas de linguagem natural.

Josep Maria Raventós, Diretor SMB&CPA em Portugal e África da Cegid, explica que “as aplicações de IA nas soluções de gestão representam um novo paradigma de interação com o sistema, em que este deixa de ser apenas um recetor ou repositório de informação, passando a ter um papel ativo na gestão do negócio e a contribuir para elevar ao máximo o potencial das empresas”.

A IA, em particular a IA generativa e a Business IA, está a revolucionar os softwares empresariais ao promover automação inteligente, análise de dados avançada e decisões informadas em tempo real. “A IA não é apenas um complemento, mas sim o motor central da produtividade, inovação e experiência do cliente”, sublinha Tiago Esteves.

 

Hugo Oliveira, Partner & Ecosystem Director Iberia da Sage

Hugo Oliveira reforça que “a inteligência artificial está a mudar o papel do software empresarial: de reativo para preditivo ou proativo”. A Sage está a acompanhar essa transformação e prepara o lançamento do Sage Copilot com tecnologia de IA integrada de base. “Ao automatizar tarefas repetitivas e fornecer insights com base em grandes volumes de dados, a IA está a transformar o software num motor de inovação”, explica. O impacto é direto: “mais eficiência, mais inovação e maior capacidade de resposta”.

Integração: uma urgência tecnológica e competitiva

Agentes inteligentes – como o Agentforce, Cegid Pulse, Joule ou Sage Copilot – estão a ser integrados nas soluções de gestão para fornecer análises financeiras, relatórios, alertas e recomendações. Para que estas ferramentas tenham impacto real, é essencial que os dados fluam entre sistemas. Filipe Costa, Corporate & Partner-Driven Sales Director da SAP Portugal, sublinha que, para tirar “verdadeiro partido desta evolução tecnológica”, as empresas precisam de modernizar as suas infraestruturas e migrar para a cloud.

Tiago Esteves chama a atenção para a complexidade da integração entre sistemas como um dos principais obstáculos à inovação. “Muitas organizações operam com uma mistura de software legado e soluções modernas, o que gera dificuldades na comunicação entre plataformas e na partilha eficiente de dados. Esta fragmentação compromete a fluidez dos processos internos e pode atrasar decisões estratégicas por falta de visibilidade global do negócio”.

Josep Maria Raventós, Diretor SMB&CPA em Portugal e África da Cegid

 

Josep Maria Raventós também sublinha que “os desafios enfrentados pelas empresas incluem a integração de novas tecnologias com sistemas obsoletos, a resistência à mudança organizacional e a necessidade de garantir segurança e conformidade”.

Segundo Hugo Oliveira, “são muitos os desafios que as empresas enfrentam, umas enfrentam todos outros apenas alguns – depende muito da realidade de cada uma delas”. Entre os principais obstáculos, destaca “a integração de sistemas, a preocupação com a segurança e compliance, as complexidades de migração para a cloud, a falta de talento especializado, a resistência à mudança e os custos associados”. A seu ver, “estes desafios travam a inovação e dificultam a modernização das empresas”, pelo que superá-los “é decisivo para garantir a competitividade e preparar o setor para o futuro”.

Parceiros de Canal: os novos consultores de confiança

 

Filipe Costa, Corporate & Partner-Driven Sales Director da SAP Portugal

É neste ambiente complexo e exigente que os Parceiros de Canal assumem um papel estratégico. Filipe Costa defende que “desde que estejam devidamente capacitados e atualizados, podem ser agentes de mudança, ajudando as empresas a explorar o verdadeiro potencial da tecnologia no contexto de negócio”.

Segundo Hugo Oliveira, “os Parceiros de Canal são cruciais na transformação digital das PME”. A sua mais-valia resulta da combinação entre “conhecimento técnico com proximidade ao negócio”, o que lhes permite transformar os processos dos clientes e acelerar a adoção de soluções digitais. “Mais do que vender software, ajudam a criar valor, adaptando soluções às necessidades concretas de cada cliente”, explica.

A evolução dos Parceiros acompanha a transformação do setor. Para Hugo Oliveira, “as mudanças no mercado colocam os Parceiros numa posição estratégica: passam de implementadores técnicos para consultores de confiança”. Diferenciam-se pela especialização setorial, pela personalização e pela capacidade de oferecer serviços com elevado valor acrescentado, como “a análise de dados e desenvolvimento de verticais”.

Além disso, a Sage tem investido no reforço deste ecossistema: “Temos ainda investido fortemente em ter Parceiros certificados para dar o melhor serviço do mercado e ainda disponibilizando formação e certificação aos nossos clientes”, afirma.

Josep Maria Raventós reforça que “as soluções cloud oferecem benefícios como a escalabilidade, flexibilidade e redução de custos, permitindo que as empresas adaptem rapidamente as suas operações às exigências do mercado”. E conclui: “a capacidade de fornecer soluções personalizadas e integradas tornou-se, hoje, um fator decisivo para a competitividade das empresas portuguesas”.

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