Flávia Gomes em 2025-6-20
As redes empresariais assumem um papel central na transformação digital das empresas, assegurando a conetividade, a segurança, a escalabilidade e o desempenho essenciais para responder às exigências do mundo híbrido e hiperconectado. Numa mesa-redonda promovida pelo IT Channel, a Alcatel-Lucent Enterprise, a DDC Group, a HPE Aruba Networking, a Orbcom e a Zscaler partilharam a sua visão sobre a integração de inteligência artificial nas operações empresarias e os desafios que os Parceiros e os clientes podem enfrentar
Como é que caracterizam a evolução das redes empresariais nos últimos anos? Qual o impacto da transformação digital e do trabalho híbrido na forma como as redes são desenhadas e geridas e de que forma é que se estão a adaptar de forma a oferecerem melhores experiências digitais, análises preditividas e ferramentas de segurança proativas?
Henrique Amaro, Business Lead Manager, Alcatel-Lucent Enterprise: “Existe uma tendência que é cada vez maior e, por isso, a nossa aposta também na parte do manufacturing e do industrial, que é a convergência IT/OT, que está a acelerar e as redes estão a convergir. E isso, de alguma forma, dentro dos setores do manufacturing, transportation e energy utilities, está a levar-nos a ter de desenvolver novos equipamentos para a área industrial, mas que também funcionem com os equipamentos enterprise” Nuno Barbosa, Territory Manager, HPE Aruba Networking: “Este tema do trabalho remoto e híbrido acaba por exigir uma infraestrutura mais segura, com capacidades de adaptação e gestão centralizada. Nós sabemos perfeitamente que, com a pandemia, deixámos de trabalhar dentro do nosso forte, e o nosso forte era a nossa empresa. Nós chegávamos, ligávamos e conectávamos àquela rede segura e agora precisamos de umas redes que sejam mais ágeis e escaláveis para suportar o aumento de dispositivos, aplicações em cloud e estas políticas de segurança mais rigorosas” Felix Frazão, Technical Director South, Orbcom: “Sentimos que os clientes estão cada vez mais dispersos, mais distribuídos e têm uma necessidade de escalabilidade muito mais alargada que aquilo que era antes da COVID, que impulsionou todo este progresso. Junto da Huawei temos soluções que nos permitem dar esta escalabilidade. Conseguimos trazer mais valias. Usamos ferramentas como o CloudCampus, onde tiramos partido de políticas de segurança, NACS, onde também incluímos o Wi-Fi 7 e por fim o SD-WAN, onde podemos interligar toda a componente empresarial” Como evolui a infraestrutura de rede on-premises face à pressão crescente da cloud e da virtualização? A cablagem, os switches e os pontos de acesso continuam a ser críticos? Que papel desempenham na fiabilidade e na segmentação da rede? João Gorgulho, Country Manager, DDC Group: “Nos últimos anos o networking e as redes empresariais passaram de uma infraestrutura funcional e invisível para uma componente central das estratégias de negócio, onde a transformação digital acelerou e o modelo do trabalho híbrido tornou a rede numa plataforma crítica. As redes deixaram de ser apenas canais de transporte de dados para se tornarem quase em ecossistemas vivos, com a capacidade de adaptação, previsão de comportamentos, e uma atuação mais proativa” Como é que é possível garantir a segurança numa rede com múltiplos pontos de acesso, utilizadores remotos e cloud? Qual o papel das arquiteturas zero trust e SASE neste contexto?
Manfred Ferreira, Sales Account Executive Portugal, Zscaler: “A Zscaler ao nível do SASE e do Zero Trust já disponibiliza toda a solução há mais de 15 anos. A nível das organizações transforma uma única política transversal para quer que onde esteja a aceder. Isto significa que quando está dentro da organização tem uma política de segurança e quando vai para outra região é assegurada a mesma política. Isto quer dizer que toda a segurança que antes estava na organização passa a estar totalmente presente através da cloud, esteja onde estiver” Henrique Amaro, Alcatel-Lucent Enterprise: “Queria passar a mais-valia do Zero Trust quando nos conectamos a dispositivos, sensores e IoT, onde os softwares não podem ser instalados para proteger. E aí tem de ser a rede e estamos já a falar do Zero Trust na parte do switching onde os problemas começam na rede. Nós depois entramos com não confiar em nada, identificar e autenticar e só depois dar uma política baseada no perfil do utilizador, do dispositivo ou até do sensor e no final segmentar para criar políticas granulares daquilo que cada dispositivo ou utilizador pode ou não fazer” Nuno Barbosa, HPE Aruba Networking: “Vemos o Zero Trust um bocadinho como um modelo que percebeu que nenhum dispositivo ou utilizador deve ter acesso automático aos recursos. Exige sempre uma verificação contínua da entidade, da integridade e inclusive do contexto, não só do utilizador, mas também do dispositivo que está a ser ligado. O tema de Zero Trust e o tema de segurança acaba por ser sempre muito relevante, porque os nossos API conseguem ter aqui uma mini firewall integrada, que permite fazer web filtering e permite ter uma gestão mais cuidada também a nível de segurança” De que forma é que as ferramentas de automação e gestão centralizada podem ser um diferencial para os Parceiros de Canal ao fornecer soluções de redes empresariais? Como garantir a visibilidade de ponta-a-ponta num ambiente heterogéneo e distribuído?
Felix Frazão, Orbcom: “Este é o grande desafio da atualidade, a visibilidade e como é que podemos automatizar a nossa rotina do dia-a-dia. Aquela questão de termos dias marcados para ver peças específicas ou ter ações específicas, isso efetivamente tem de acabar. A Orbcom como integrador e Parceiro denota, e a nossa interação no cliente acaba por ajudar em automatizar pequenas ações que são feitas e deixar que a aplicação faça por eles, libertando assim a equipa para ver outros temas mais importantes” Manfred Ferreira, Zscaler: “Há sempre uma falsa sensação de que estamos a olhar para os dados e a analítica que saem dessa informação. Muitas vezes temos essa falsa sensação de que temos tudo controlado porque os dados e os outputs que vemos parecem controlados. Na realidade não temos a visibilidade total e tão detalhada como é necessário. A esse nível no Zero Trust temos a análise do tráfego autenticado e não autenticado e conseguimos analisar todo o tráfego. Ainda temos sondas com aplicações falsas para se houver algum tipo de rastreio ou ataque, seja provocada uma automação” Nuno Barbosa, HPE Aruba Networking: “Através do componente da Aruba Central, conseguimos realmente ter visibilidade sobre os problemas que os clientes podem ter na sua rede, na sua conectividade. Tivemos um cliente que nos adjudicou uma solução na totalidade e adquiriu o Aruba Central e ele diz sempre que é como se fosse um funcionário seu, que é o melhor funcionário que tem: trabalha 24 horas, não lhe pede aumentos e nunca se queixa. Acho que estes sistemas de automação têm como pontos importantes a ajuda e apoio que dão às entidades” Henrique Amaro, Alcatel-Lucent Enterprise: “Quando temos heterogeneidade de soluções, aqui ao nível do LAN, por exemplo, a resposta tem que ser um fabric que consiga ser adaptável ao que já está instalado e ao protocolo que lá corre e isso é que faz depois todo o automatismo para podermos ter vários fabricantes de switching e dar essa heterogeneidade” Qual o papel que as redes vão assumir na próxima geração de aplicações, como é o caso da Inteligência Artificial (IA) generativa, da realidade aumentada e do edge computing? Que competências e perfis técnicos serão mais procurados nos próximos anos?
João Gorgulho, DDC Group: “Estamos a viver um salto tecnológico semelhante ao que foi a massificação da internet, com a diferença que agora realmente falamos de inteligência artificial em tudo. Na verdade, em tudo o que é digital, ou quase tudo. IA generativa, realidade aumentada, edge computing, tudo isto exige redes com uma latência mínima, uma capacidade de processamento na ponta, redundância local, distribuição de tráfego, com inteligência. As redes vão deixar de ser meros condutores e passam a ser coprocessadores na experiência digital” Manfred Ferreira, Zscaler: “Há uns anos fizemos uma transição para as aplicações em web 2.0 e isso veio abrir um leque muito grande a nível de experiência digital e da visualização interativa, até de os utilizadores e colaboradores terem tablets que interagem e, de acordo com as necessidades, faz, por exemplo, uma transformação a 3D de determinados ambientes fabris e de construção dentro do contexto de IoT. O que nós fizemos foi alargar toda esta componente de segurança para também os ambientes de IoT, através da segregação das redes” Quais são os maiores desafios na hora de integrar múltiplas soluções de diferentes fabricantes num único projeto de rede empresarial?
Nuno Barbosa, HPE Aruba Networking: “Um dos maiores desafios nesta integração é esta compatibilidade e esta interoperabilidade entre equipamentos. Cada fabricante tem realmente as suas próprias implementações, protocolos, tecnologias, às vezes os nomes, que nos confundem. Muitas vezes as empresas norte-americanas gostam muito de inventar acrónimos e acho que às vezes é muito interessante também ver esta parte, mas toda esta componente acaba por ser de alguma forma crítica” João Gorgulho, DDC Group: “A integração de soluções diferentes, de diferentes fabricantes, num só projeto, continua a ser e acho que ainda vai continuar durante algum tempo, dos maiores desafios dos integradores. E o que acontece é que a produtividade é muitas vezes sacrificada em nome da inovação e isto gera algumas ineficiências. Na Level One trabalhamos com base em standards abertos, I3E, SNMP, as compatibilidades com protocolos de gestão de terceiros, para facilitar essa integração. O integrador precisa da flexibilidade e o cliente da estabilidade” Felix Frazão, Orbcom: “É um desafio que vai continuar. A falar com clientes, sentimos esta necessidade do cliente também não ter apenas uma única solução uniforme e de um único fabricante, até mesmo por questão de vulnerabilidades ou algo do género. Se existir uma vulnerabilidade, pode estar em todos os equipamentos e por sua vez causa um impacto enorme na sua rede. E isto vai ser um desafio que vai ser contínuo” SD-WAN, SASE, Wi-Fi 6E, W-Fi 7, IA, 5G privado: quais as tecnologias que já estão a moldar o futuro do networking empresarial? Como imagem que serão as redes empresariais em 2030? Manfred Ferreira, Zscaler: “Esta dinâmica é cada vez mais rápida. Para Portugal, que estamos integrados na Europa, chega o SD-WAN, mas já se fala no mercado que o SD-WAN vai acabar em 2027, 2028, que é uma proximidade muito rápida a nível temporal. Estas tendências tecnológicas têm um grande impacto na decisão das organizações e dos Parceiros de onde apostar e como fazer esta transformação e suporte. Um dos grandes motores que vai por aí é a obrigatoriedade do cumprimento das normas e standards que empurra isto para a parte das políticas e das tecnologias” Henrique Amaro, Alcatel-Lucent Enterprise: “A nível tecnológico e de novas tecnologias que já estão a aparecer, podemos falar do Wi-Fi 7 e aí já está a ser cada vez mais pedido dentro da nossa organização. Existe também a parte do Private 5G, que está a aparecer para certos tipos de setores. Existe ainda a componente da manutenção, que é muito esquecida. Nós conseguimos ajudar os Parceiros e é esta a tendência na parte dos serviços de apoio. Tudo isto é algo que está a ser desenvolvido e está a aparecer para trazer automação e simplicidade para quem instala as redes, mas também para quem as usa dia-a-dia” Felix Frazão, Orbcom: “O SD-WAN, o Wi-Fi 6, o Wi-Fi 7, inteligência artificial, 5G privado são efetivamente as tendências que vão estar na popularidade atual do mercado. Na Huawei tentamos adaptar tudo para que se consiga chegar a estes pontos, mas em 2030 é que vamos ver o trabalho das tendências que sofremos. Gostava que tudo aquilo que se falou se tornasse realidade. Redes completamente autónomas e adaptativas, capazes de autoajustar-se a cargas, antecipar falhas, aplicar segurança em tempo real e garantir experiências personalizadas” João Gorgulho, DDC Group: “Todas estas tecnologias em convergência, Wi-Fi 6, 7, as redes privadas, a inteligência artificial na gestão da rede, estas tecnologias já estão no molde e acho que vão ser a norma no futuro. Em 2030, imagino as redes empresariais como verdadeiros sistemas autónomos, onde o tal arquiteto digital preparou bem a base, mas vai ter de estar continuamente a atualizá-la. Essas redes vão ter a capacidade de auto-reconfiguração, de diagnóstico preditivo, de gestão inteligente do tráfego com base no contexto de uso. Alguns destes sistemas já existem, mas acredito que vai melhorar muito” Quais são as competências, oportunidades e desafios que os Parceiros de Canal enfrentam no mercado de redes empresariais? Henrique Amaro, Alcatel Lucent Enterprise: “Os nossos Parceiros realmente são aquilo que nos fazem ser o que somos hoje e contamos com eles no futuro e para isso os desafios que eles têm cada vez mais, terem novas tecnologias, novas soluções, terem que aprender, a nossa resposta são as novas ferramentas que existem para o apoio, não só para o treino, o saber fazer, o saber antever, o poder ajudar ao nível dos serviços, manutenção com os clientes, o testar sem ser intrusivo e criar novos serviços, mas também a parte de poderem entrar de uma forma simples” João Gorgulho, DDC Group: “Estamos realmente a construir o futuro e é nos bastidores que o palco ganha vida e as redes são esse bastidor silencioso. No grupo DDC estamos ao vosso lado para terem acesso a soluções sólidas, a suporte técnico próximo e uma equipa focada em criar valor real. Este é o momento para se diferenciarem, para liderarem a transformação, para não venderem apenas equipamentos, mas para entregarem continuidade, segurança inteligência. A tecnologia muda, mas a confiança constrói-se” Nuno Barbosa, HPE Aruba Networking: “Sabemos que existem vários desafios, um deles é manter atualizado neste mercado com rápida evolução e é aí que, com os nossos recursos locais da Aruba, fazemos um bocadinho a diferença. Nós temos pessoas para fazer a formação, temos suporte técnico especializado, damos esta formação contínua e temos estas soluções que são altamente adaptadas. Também temos um programa de Canal forte, com diversos incentivos atrativos e diferenciadores que variam conforme também o grau de especialização dos nossos Parceiros” Manfred Ferreira, Zscaler: “Para os nossos Parceiros, existem múltiplas oportunidades, até de transformar as organizações e adotarem todas estas componentes mais seguras. Contamos com o Westcon, que faz uma extensão a nível de formação e capacitação a todos os Parceiros e clientes. Também temos Parceiros para toda a componente de consultoria e auditorias, que faz uma extensão também de todas as normas e estándares que são requisitados para ver a gap analysis e aportar valor não só do ponto de vista tecnológico e da adoção, mas das necessidades reais dos clientes” Felix Frazão, Orbcom: “Todos os esforços que os fabricantes têm, desde a execução de canais de formação e de comunicação, é bastante importante na relação entre Parceiro e fabricante, mas a parte mais crucial é a aproximação informal entre Parceiro e fabricante. O facto de um Parceiro ir abordar um fabricante é porque ainda tem dificuldades em tratar o tema, desde um desenho de uma arquitetura, entender um pouco o produto porque ainda não o trabalhou, e uma relação não tanto formal ajuda a tirar aquele peso e a obrigação ou a possibilidade de falhar dos ombros da equipa” |