Henrique Carreiro em 2022-9-19

OPINIÃO

Anchor

Os silenciosos construtores de futuros

Talvez, como afirma o ditado, o segredo seja mesmo a alma do negócio. Mas, em tecnologia, estamos habituados a empresas que gostam de, muitas vezes, inflacionarem os respetivos lançamentos, de se mostrarem maiores do que o que são

Os silenciosos construtores de futuros

E depois há as outras, aquelas de que nunca se ouve falar e que prosseguem silenciosa e consistentemente um caminho que, a prazo, sentimos que as tornará imprescindíveis.

Uma tal empresa é a Ampere Computing, de quem pouca gente conhecerá, e que tem menos de cinco anos, ou seja, tecnicamente, por todos os parâmetros correntes de avaliação, é uma startup. Contudo, está a revolucionar as infraestruturas da cloud com aquilo a que denomina o primeiro “cloud native processor”. Sendo uma empresa apenas de desenho de processadores, isto é, que não detém capacidade de fabrico, a Ampere conseguiu já contar entre os seus clientes com a Microsoft e a Google.

A Microsoft tem mesmo já disponível uma oferta de instâncias Azure, baseada em processadores com 80 cores estando também em roadmap uma nova geração com 128 cores. Trata-se de processadores com tecnologia base ARM, a nível do conjunto de instruções, mas com desenho da própria Ampere Computing, que é liderada por uma equipa proveniente da Intel.

O benefício da ARM no data center é, entre outros aspetos, a muito favorável relação de consumo de energia versus desempenho. A arquitetura ARM está na base dos processadores de todos os smartphones, de iPhone a todos os Android e também na mais recente geração de computadores da Apple com processadores M1 e M2. Todo o desenvolvimento em torno de ARM tem sido focado no aumento de desempenho não sacrificando o baixo consumo. Entre os fundadores da Ampere contam-se os que asseguravam a relação da Intel com a plataforma Windows, pelo que certamente terá sido menos complexo do que seria para uma outra startup noutras circunstâncias obter tão depressa a empresa de Redmond como cliente.

A Ampere não está sozinha nesta tentativa de conquistar o mercado de processadores ARM para data center. A Amazon tem estado a criar a sua próprias linhas internamente, e a Qualcomm, que tem papel de liderança no que se refere a processadores para smartphone, está atualmente a ponderar reentrar neste mercado dos servidores após uma anterior tentativa abandonada antes de colher frutos.

Mas o resultado final desta competição será decerto a existência de circuitos que possibilitam a criação de datacenters mais económicos de gerir, sendo que a componente principal, o custo mais significativo num datacenter, não é nem o terreno de construção, nem as máquinas, nem sequer os recursos humanos: é o consumo energético. Consumo esse que, num data center tradicional, pode chegar a ser equivalente a uma cidade de média dimensão.

O que a Ampere Computing e as outras estão a fazer pelo data center é assim uma direção muito bem-vinda, não apenas do ponto de vista económico mas, sobretudo, do ponto de vista ambiental.

Recomendado pelos leitores

Como a IA Generativa está a transformar o mundo dos negócios
OPINIÃO

Como a IA Generativa está a transformar o mundo dos negócios

LER MAIS

A AI desencadeia uma revolução no networking da Cloud
OPINIÃO

A AI desencadeia uma revolução no networking da Cloud

LER MAIS

La vía portuguesa de hacer política
OPINIÃO

La vía portuguesa de hacer política

LER MAIS

IT CHANNEL Nº 106 ABRIL 2024

IT CHANNEL Nº 106 ABRIL 2024

VER EDIÇÕES ANTERIORES

O nosso website usa cookies para garantir uma melhor experiência de utilização.