Henrique Carreiro em 2015-4-17

OPINIÃO

O nosso próximo computador será um datacenter

Numa primeira aparência, cloud computing pode parecer um conceito vago, difuso até, em consequência da associação à ideia de imaterialidade de nuvem. Na prática, contudo, as suas caraterísticas estão hoje determinadas com rigor.

O nosso próximo computador será um datacenter

Segundo a definição atualmente com maior aceitação (a do NIST, o Instituto de Normalização e Tecnologia Americano), cloud computing é um modelo que permite o acesso ubíquo, conveniente, a-pedido, a um conjunto partilhado (pool, em inglês) de recursos computacionais que podem ser rapidamente aprovisionados e libertados com um esforço mínimo de gestão.


Caraterísticas do modelo de cloud computing

O modelo de cloud computing define-se pela capacidade do próprio utilizador se servir dos recursos de que necessita — característica que o NIST denomina on-demand self service. Esta possibilidade tem levado a que, em muitas organizações, a adoção do modelo de cloud tenha começado por utilizadores finais, e não pelas áreas de tecnologias de informação empresariais, que é caraterística de outras inovações. Exemplo desta adoção é a ubiquidade dos serviços de armazenamento e partilha de ficheiros (Dropbox, Google Drive, OneDrive) que começaram como serviços para o consumo e, posteriormente, passaram a ter versões empresariais, que levaram à sua disseminação de uma forma mais estruturada e compatível com os padrões de segurança e gestão organizacionais.

Para as empresas, uma das caraterísticas determinantes que a cloud permite é a chamada elasticidade rápida, isto é, a possibilidade de recursos serem aprovisionados e libertados de forma automática. Esta permite a resposta a exigências de utilização, em forma de picos sazonais, ou para aplicações em que é necessária uma capacidade de processamento elevada por intervalos pequenos de tempo.
Outra das caraterísticas que define cloud computing é que a disponibilização de serviço é medida — ou seja, cada um dos tipos de recursos usados é mensurável e controlável pelos prestadores e utilizadores dos serviços. Isto torna os serviços de cloud efetivamente serviços em que os clientes pagam apenas aquilo de que necessitam e que permite iniciar a utilização sem qualquer compromisso ou, até, contrato de fidelização. Um dos exemplos que combina a elasticidade rápida com a mensurabilidade é a utilização de plataformas de cloud para a realização de testes de carga, simulando o acesso de milhares de utilizadores a um servidor web, por exemplo, por uma fração do custo que outras soluções nesta escala implicariam.
No passado, as inovações em tecnologias de informação, mais caras, eram habitualmente adoptadas em primeiro lugar por empresas grandes, uma vez que apenas estas tinham capacidade para adquiri-las. O cloud computing, em contrapartida, beneficia também as PME, e as empresas em início de atividade, nomeadamente startups de base tecnológica, eliminando grandes investimentos à cabeça e permitindo às empresas pagar pela utilização de recursos computacionais no curto prazo, em modo pay-as-you-go.

Estudos recentes confirmam que a dimensão da empresa não afeta diretamente a intenção de adopção de tecnologias de cloud — ou seja, as características acima indicadas tornam a opção pela cloud interessante, qualquer que seja o número de funcionários ou a faturação da empresa.

A interseção de cloud e mobilidade

Uma das áreas de mais rápido crescimento em cloud computing é o suporte a uma nova geração de aplicações móveis, em que o trabalho de processamento mais intenso é delegado na cloud, possibilitando novos domínios de aplicação que, apenas por via dos recursos disponíveis no dispositivo terminal (telefone ou tablet), nunca seriam possíveis.

A emergência de redes da terceira geração e posteriores, com elevada largura de banda, o que se tem vindo a designar como mobile cloud computing, introduz uma mudança de paradigma relativamente às comunicações móveis. Muitos utilizadores finais estão já familiarizados com serviços de reconhecimento de voz, como o Siri ou o Cortana (respetivamente da Apple e da Microsoft), que dão uma ideia do que podemos esperar quando se combina um cliente móvel e versátil com a capacidade computacional da cloud.

Com os fornecedores de plataformas de cloud e de sistemas operativos para dispositivos móveis a disponibilizar interfaces que facilitam o desenvolvimento, mais aplicações surgirão nesta área, quer para utilizadores individuais quer para organizações. Um estudo da ABI Research indica que este ano 240 milhões de empresas terão acesso a serviços cloud através de dispositivos móveis, levando a que as receitas globais dos serviços de mobile cloud computing ascendam a 5,2 mil milhões de dólares.

Ou seja, onde quer que estejamos, qualquer que seja o dispositivo que usemos, o nosso verdadeiro computador estará algures e será — um datacenter.

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