2015-1-01

OPINIÃO

5 razões por que a Apple pode virar estrela cadente

Nunca uma empresa de tecnologia vendeu tanto, teve tanta margem e valeu tanto. Mas esses dias de glória podem conhecer em 2015 "nuvens escuras no horizonte" para uma empresa que só consegue capitalizar com produtos criados pelo seu fundador. Identificamos 5 “calcanhares de Aquiles” que a empresa tem de ultrapassar para se manter no topo.

5 razões por que a Apple pode virar estrela cadente

Nada de revolucionário ocorreu na Apple após Steve Jobs

Tim Cook, CEO da Apple, lidera os destinos da empresa desde finais de 2011.
Como seria de esperar, o CEO e a sua equipa fazem uma gestão competente da empresa.Sob o ponto de vista da Gestão, os acionistas não poderiam estar mais contentes com um CEO do que estão com Tim Cook.

Mas a maré pode mudar a qualquer momento e 2015 vai por a prova a liderança de uma empresa onde não existem mais revoluções criativas, apenas evoluções sobre produtos e conceitos criados no tempo de Steve Jobs.

Os 5 problemas que a Apple não vai admitir:

1 - Estamos sem ideias

Com a brutal frontalidade e ironia que sempre o caracterizaram, Larry Ellison, fundador da Oracle, referiu-se à gestão Apple pós Steve Jobs como: -“I’d like to paint like Picasso, what should I do? Should I use more red?”

A falta de ideias geniais começa a fazer-se sentir na Apple, independentemente de quantas versões gigantes do iPhone 6 são lançadas, ou se temos agora um iPad em miniatura e um iPod Nano de pulso (Apple Watch).

Nenhum projeto verdadeiramente disruptivo avançou após Steve Jobs.
Temos máquinas com processadores mais rápidos, ecrãs de maior resolução e sistemas operativos que juntam features às que já existiam. Na verdade nada de novo, porque tudo é uma evolução do que foi criado até 2011.

Com metade do volume de vendas dependente do iPhone ( ± 100 bilions $usd), a Apple tem ainda conseguido convencer milhões de utilizadores a trocar os seus smartphones por novas versões cada vez lançadas com um menor intervalo, mas a repetição desta fórmula tem um limite.


2 - Os nossos clientes estão fartos de versões novas

Os lançamentos da Apple, de novas versões, estão a ficar parecidos com os da indústria automóvel, “Venham ver: trocamos o ar aos pneus!”.
Se ainda existem aderentes para trocar de smartphones com um ano, existe agora um pujante comércio de segunda mão. Em Setembro, e antes do lançamento do iPhone 6, o mercado de segunda mão da versão 5 do iPhone explodiu 671% face ao mês anterior, de acordo com a NextWorth.
Este número crescente de pessoas que preferem uma boa oportunidade de preço por uma tecnologia que tem um ano, em vez de correr para o retalhista mais próximo, ganha em cada lançamento mais adeptos entre utilizadores que anteriormente eram compradores de equipamentos novos.

Para os resellers, comprar Apple é comprar um produto já fora de prazo, tão perto está um novo release que a gestão de stocks é um problema.

A contabilidade é frenética: desde o início do século foram 6 iPods, 2 iPods mini, 7 iPods nano, 4 iPod Shuffle, e desde 2007 foram 10 iPhones e 6 iPads desde 2010. Nenhum mercado aguenta tanto lançamento sem cansaço.


3 - A privacidade e segurança tornaram-se um problema

É inútil dizer que as vedetas de Hollywood são tontas, e esse foi, de forma mais polida e política, a primeira reação da empresa à violação de contas Apple ID.

A “maçã” tem uma grande reputação de segurança, em parte ganha pela base de linguagem Unix do OSX, em parte devido ao “ecossistema” fechado de apps, e em parte porque o esforço para derrubar o sistema não era tão compensador aos hackers num mercado restrito de utilizadores elitistas.

Mas este cenário mudou nos últimos anos, e a Apple é atualmente guardiã de dados pessoais e bancários de mais de 230 milhões de pessoas.

Quando nos finais de 2011 o iCloud substituiu o exclusivo serviço pago @me, a Apple abriu as contas a todos os utilizadores, permitindo inclusive que usem e-mail de outros providers e com as passwords destes e-mails, para abrir contas maioritariamente usadas por utilizadores iPhone.
Regras rígidas de registo viraram 2 campos de preenchimento, e para não dificultar quem ainda usava passwords “medievais”, foram pedidos requisitos mínimos.

O “buraco dos fundos” parece ter sido a aplicação “find my iPhone” (a Apple nunca revela assuntos relacionados com segurança ), que de acordo com o site Engadget permitia um número indeterminado de tentativas de passwords.

Fotos de vedetas nuas tornaram-se virais na Internet porque o conteúdo é “simpático” de divulgar, mas nunca se teve a informação da quantidade de contas violadas, com acesso não só aos álbuns de fotos, mas a outras informações pessoais relevantes que os utilizadores colocam na “nuvem”, o que pode incluir dados financeiros e outros dados sensíveis dos utilizadores.

Uma mancha na até agora imaculada reputação de segurança da Apple, e um mau serviço prestado a todos os serviços Cloud.


4 - iPad é o filho problema

A vendas dos iPad seguem o padrão das vendas dos iPod, estão em quebra.
Independente da versão mini, as receitas estão em queda há três trimestres consecutivos e a previsão é que o próximo trimestre siga a tendência, até por canibalização do iPhone 6 Plus.
Se todo o universo tablet sofre agora de crescimento lento, o iPad sofre mesmo de uma queda abrupta de 5,9 bi $usd para 5,3 bi $usd no último trimestre.
A previsão da IDC para todo o ano de 2014 é de uma queda homologa nas vendas de 12,7%.

A razão deste comportamento é um prenúncio do que pode vir a acontecer com o iPhone muito em breve. O período de recompra dos iPad está a aumentar, eles não tem muito por onde avariar ou deteriorar, e a necessidade sentida pelos users da Apple para comprar o último modelo é cada vez mais reduzida.
No mercado dos tablets é preciso também considerar que a Samsung e outros fabricantes tem sido rivais crescentemente mais importantes, com produtos mais acessíveis e fiabilidade do Android melhorada.

O "gap" entre iOS e Android já foi maior, e está a encortar.


5 - Adeus iTunes, o Download morreu

Lançado em 2003, o iTunes Store teve o mérito de dar à industria discográfica um modelo de negócio para a era digital, num mundo que parecia estar à beira da implosão, dominado pelo Napstar e inúmeros files share servers ilegais.
Com um sistema de direitos de autor protegido (DRM) e baixos custos de distribuição (33%), as editoras tiveram no iTunes uma sobrevida para as suas receitas, e os artistas passaram a programar os seus lançamentos para o universo da loja de música mais bem sucedida da história: a Apple.

Mas a maré está a mudar novamente, o sentido de propriedade de uma obra musical por parte do ouvinte (tenha sido comprada legalmente ou pirateada) está a desaparecer, sobretudo para as novas gerações.

Não importa se detemos a música, importa se ela está sempre disponível online.
YouTube, Spotify, Vevo e Zune são hoje os grandes serviços de música por streaming e estão a fazer estragos, tanto na indústria discográfica, que já não obtém as margens de 0,66€ por música comprada, como nas contas da Apple.
As receitas do iTunes Store baixaram 6% de 2013 para 2014 e essa tendência não vai parar aqui. Os consumidores que ainda valorizam a propriedade estão a ser substituídos por jovens que se satisfazem apenas com a disponibilidade.

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