Marta Quaresma Ferreira em 2025-6-17
O Senior Analyst da Context apresentou uma perspetiva positiva do desempenho de Portugal ao nível do valor do mercado, com o país a posicionar-se como “uma oportunidade importante” para o investimento dos fabricantes de tecnologia
Victor Ivanov, Senior Analyst da Context
Victor Ivanov foi responsável pelo keynote de abertura da edição de 2025 do Channel ON. O Senior Analyst da Context levou até à conferência dos Parceiros o panorama do Canal, oferecendo uma visão para o mercado português de IT. O analista começou por destacar que Portugal está a superar os restantes países com uma performance positiva. “Há algo em vocês que faz com que isto aconteça”, defendeu. Em média, o Canal é responsável por gerar receitas na ordem dos 190 milhões de euros e caracteriza-se por duas ondas: uma mais elevada, no final do ano, e uma segunda mais baixo, a meio do ano. Em Portugal, as receitas em abril deste ano geraram cerca de 147,8 milhões de euros. Em termos de valor de negócio e volume de vendas do mercado de IT em Portugal, é possível verificar uma descida no valor das vendas comerciais, que estão dependentes dos padrões e comportamentos de consumo dos clientes. Por outro lado, o valor de negócio registou um crescimento. Desta forma, e ainda que com menos unidades vendidas, o mercado português destaca-se pela forte valorização das vendas em 2025, um sinal positivo para o Canal focar-se em soluções de valor agregado. Maior performanceAo aceder a informação proveniente dos distribuidores, é possível obter um retrato filtrado por clientes, produtos, Canais e outras categorias que forneçam insights, como é o caso dos setores com melhores resultados. Em Portugal, o setor das Telecomunicações – 30,7 milhões de euros de receitas em abril deste ano – lidera a lista como o setor com maior performance, essencialmente alavancado pelos smartphones, seguido do Mobile Computing, com portáteis e tablets, considerada ainda como “uma das categorias mais importantes”. Em terceiro lugar surge o setor das Garantias e Serviços, seguido da área de Software e Licenças. A fechar o top cinco estão os consumíveis de impressão. Ao olharmos para a Europa, nomeadamente para outros mercados e tecnologias, é possível obtermos uma imagem daquelas que são as tendências e o caminho a seguir nos negócios. “O mercado português apresenta-se como uma oportunidade importante para os fabricantes, a par de Espanha. Há algo de atrativo na região ibérica, que tem, por exemplo, uma ótima cobertura de fibra ótica. Toda a infraestrutura de dados está muito bem organizada, melhor que países como a Alemanha. Talvez a razão esteja por detrás do ambiente, das leis ou dos impostos. Mas algo está a atrair os negócios e Portugal e Espanha destacam-se relativamente ao resto da Europa”, refere Victor Ivanov. O índice de receitas na distribuição apresentado pelo analista destaca Portugal com valores acima do valor índice de referência em 2025, num desempenho mais positivo que outros países europeus, como o Reino Unido, França, Itália, Espanha e até a Alemanha. Aproveitar as oportunidades para garantir melhor performanceA área de desktops está a testemunhar um crescimento superior ao registado nos últimos anos, revelou Victor Ivanov, o que representa uma oportunidade para os Parceiros, nomeadamente ao nível dos componentes de computação. As redes são outra das áreas que se está a destacar: “o ano passado houve um grande crescimento, à boleia das atualizações e do aumento da infraestrutura. Está a chegar o Wi-Fi 7, que se vai refletir nos sistemas de rede, nos switches, nos routers, entre outros. Há necessidade de ser atualizado”, reflete o analista. “No geral, a situação do Canal de IT na Europa não é assim tão boa, mas existem categorias que estão com bons desempenhos. O desafio é encontrarem essas categorias”, acrescenta, enaltecendo o trabalho proveniente da análise do mercado para extrair informação sobre as categorias e o seu potencial de crescimento. Ao fazer a divisão das diferentes categorias do Canal, a cadeia de retalho destaca-se em 2025, com um crescimento superior a 2023 e 2024. “Os clientes estão a ir aos retalhistas, talvez para melhorar e atualizar os equipamentos, nomeadamente portáveis, notebooks, talvez devido a alguns programas específicos, como o kit digital, em Espanha, onde as pessoas têm acesso a uma quantia de dinheiro para atualizarem e melhorarem os seus sistemas”, explica. Segundo os dados apresentados, a tendência mais recente aponta para que os produtos estejam a surgir diretamente no retalhista através do fabricante, ao invés dos distribuidores. O cenário agrava-se quando falamos em PC de consumo. Por outro lado, quando o foco está nos computadores empresariais, a distribuição ganha novamente mais destaque. “Aqui, os distribuidores não são considerados apenas como uma loja onde podemos comprar coisas, mas também um ‘banco’ que oferece financiamento e financia as vendas”, reitera o analista. Victor Ivanov defende que este cenário tende a manter-se, uma vez que os retalhistas nunca terão capacidade de “entregar o suporte financeiro para a indústria”. Previsão para 2025O atual ambiente económico e geopolítico aumenta o grau de dificuldade das previsões, em especial devido aos anúncios das tarefas e ao recuo das mesmas em determinadas ocasiões. No entanto, a variação de vendas de distribuição na Europa aponta para um aumento de 4,4%. “Tradicionalmente, o setor de IT costuma superar a performance da economia”, justifica. A variação das vendas por distribuição na Europa mostra um Q1 forte, com uma variação de 4,8% relativamente ao trimestre de 2024. A previsão apresentada pelo analista da Context mostra uma pequena descida para 3,5% para o Q2 e uma nova subida para o Q3 de 4,3%. Na reta final do ano a previsão é a de que esta variação volte a aumentar para 4,7%, para voltar a descer no arranque do Q1 de 2026 (3,2%). As soluções certas para as pessoas certasNuma mensagem final, Victor Ivanov sublinhou uma vez mais a ideia de que “o Canal de IT português está a ter um desempenho superior ao da Europa”. O analista reforça que uma das principais ideias passa por “vender as coisas às pessoas certas”, nomeadamente “quando se trata de temas como custos ou poupança de custos, não vendam aos técnicos; vendam aos financeiros que sabem o seu significado. O XaaS – Everything-as-a-Service – aumenta o conforto financeiro de um diretor financeiro”, assevera Victor. Outra das tendências a ter atenção é a simplificação da Inteligência Artificial (IA), que se tornará mais “simples e pequena”, o que se traduz no mesmo desempenho, mas com um custo mais baixo. Ainda sobre a IA, e com a necessidade de atualizar o Windows, a previsão aponta para um grande crescimento das soluções de IA autónomas e híbridas no decorrer do próximo ano. Por fim, Victor relembra também que é necessário continuar a educar os clientes para promover as soluções de IA. A intervenção do analista destaca a posição que o Canal de IT em Portugal assume na Europa. A resiliência do mercado português reflete-se não só na estabilidade das receitas, mas sobretudo no crescimento expressivo do valor de mercado — mesmo em contextos de contração no volume de vendas. Para os Parceiros do Canal, este é um momento de capitalizar oportunidades: setores como Telecomunicações, Mobile Computing, Garantias e Software continuam a liderar em receita, enquanto as áreas de desktops, componentes e redes podem revelar-se com potencial. O sucesso passará por endereçar as soluções certas às pessoas certas e por uma aposta estratégica na simplificação da IA e em modelos as-a-Service, que respondem às exigências do mercado. |
Céu Mendonça, da Microsoft Portugal, é a entrevistada principal do Channel ON 2025