Flávia Gomes em 2025-6-17
O painel de oradores destacou a urgência da adaptação das empresas à diretiva europeia NIS2 e à necessidade de maior capacitação no setor de cibersegurança, com foco especial nas PME
A primeira mesa-redonda da terceira edição do Channel On juntou representantes da Claranet Portugal, da CSO, da Redshift e da VisionWare
A primeira mesa-redonda da terceira edição do Channel On levou até ao palco o tema “Segurança e Compliance: Uma nova prioridade para o Canal” e contou com a partilha de experiências e conhecimentos sobre o impacto da implementação de diretivas de segurança adequadas e em conformidade com as regulamentações europeias. A importância da natureza do serviço na era da NIS2Jorge Miranda, Executive Manager da CSO, destacou que o tamanho das empresas deixou de ser importante para a implementação de uma diretiva como a NIS2 e considerou que “o que passa realmente a ser importante é a natureza do serviço que a empresa presta”. Esta nova abordagem legislativa leva à integração obrigatória de medidas de segurança, mesmo em pequenas empresas consideradas críticas. Para o orador, esta diretiva representa uma oportunidade para que as empresas passem a encarar a cibersegurança de forma mais estruturada e transversal. “Vai permitir que as empresas, de uma forma integrada, olhem para a cibersegurança, estamos a falar dos processos, da organização, dos controlos documentais, dos controlos tecnológicos, exatamente para que estejam alinhadas com a NIS2”. Capacitação e talento como desafios para os serviços de cibersegurançaCom foco na implementação de serviços de segurança, João Manso, CEO da Redshift, foi claro quanto ao desafio que representa para qualquer empresa: “a capacitação é um desafio muito grande, porque todos temos a sensação óbvia de que há falta de recursos e que os recursos que existem cada vez são mais caros”. Sublinhou que esta dificuldade em atrair e reter talento impacta diretamente a capacidade das empresas de oferecerem serviços relevantes e sustentáveis. Neste contexto, explicou a estratégia adotada pela Redshift, que nos últimos anos tem vindo a transitar de um modelo de prestação de serviços tradicional para uma abordagem mais orientada ao fornecimento de tecnologia como serviço. “A Redshift começou a fazer essa transição para uma empresa focada em serviços, exatamente porque vimos no mercado a necessidade de não só conseguir fornecer soluções aos clientes, mas também de evitar que fossem obrigados a criar a sua própria capacitação para gerir essas soluções”. Da irrelevância ao imperativo: a cibersegurança no centro da gestãoNa sua intervenção, Bruno Castro, CEO & Founder da VisionWare, recordou que “há 20 anos, falar de cibersegurança era um luxo”, destacando que o tema era marginal e quase irrelevante para a maioria das empresas. No entanto, este panorama alterou-se radicalmente. “vou ser um pouco politicamente incorreto: hoje, a conversa do nice to have ou must have já não é tema”, afirmou. Para o orador, não há atualmente nenhum gestor moderno que não contabilize o ciber-risco na sua atividade. O debate real, defendeu, não está na decisão de investir ou não em segurança, mas sim em “perceber o modelo de governação, a questão do risco, do investimento e de toda a continuidade do modelo de segurança dentro da organização”. Sublinhou que dois momentos marcaram a viragem de mentalidade: a “pandemia cibernética” que surgiu no contexto da COVID-19, e a emergência da diretiva NIS2, que trouxe consigo novas obrigações de segurança e governação. “Tivemos a oportunidade de levar algumas doses de humildade no terreno”, confessou, referindo-se ao impacto direto dos ataques também sobre os próprios profissionais da área. Literacia em cibersegurança e alinhamento com o negócioDavid Grave, Security Director da Claranet Portugal, sublinhou que é impossível para qualquer direção de uma empresa alegar desconhecimento sobre cibersegurança: “todos os impactos mediáticos que ocorreram contribuíram de alguma forma para a literacia da cibersegurança”. O orador reforçou a ideia de uma mudança de paradigma, defendendo que o setor está agora mais apto a falar a linguagem do negócio. “Estamos a ensinar os nossos clientes a posicionarem aquilo que é a cibersegurança como um ativo de proteção do negócio”, afirmou, criticando a abordagem anterior, baseada em “soluções tecnomágicas”. A entrada em vigor da diretiva NIS2 foi considerada como um motor desta transformação, tanto para as empresas diretamente abrangidas como para toda a cadeia de fornecimento. “Se eu sou e quero ser NIS2 compliant, vou começar a exigir também ao meu supply chain”, explicou, apontando a diferenciação como um benefício competitivo para quem se alinhar com os requisitos da diretiva. Neste contexto, destacou-se a importância dos modelos de serviço gerido, especialmente face à compressão das margens no Canal. Porém, o orador alertou para os desafios práticos desta transição, especialmente no segmento das pequenas e médias empresas (PME). “Vamos entrar numa organização e dizer que temos de trocar toda a tecnologia porque fornecemos um serviço só de uma determinada forma? Isto é impossível”. Sublinhou que os investimentos anteriores das PME têm de ser respeitados e otimizados, reconhecendo os limites orçamentais e a necessidade de aproveitar as ferramentas já existentes. “Nem tudo se resolve por tecnologia”, concluiu. O orador terminou afirmando que o setor vive “uma altura de disrupção, uma altura de muita oportunidade no mercado”, com o compliance a acelerar o processo, mas também a colocar exigências adicionais aos integradores que queiram ser relevantes junto das pequenas e médias empresas. Conformidade em risco: milhares de empresas ainda fora da NIS2João Manso lançou um alerta sobre o estado das empresas nacionais face à diretiva NIS2, citando dados recentes do Centro Nacional de Cibersegurança: “segundo a estatística apresentada, há pelo menos quatro mil empresas abrangidas pelos requisitos do NIS2 que não cumprem, das cinco mil que deveriam estar no âmbito”. Sublinhando ainda que, embora a cibersegurança esteja longe de ser uma “bolha”, trata-se de um requisito cada vez mais exigido pelas grandes empresas, com impacto direto na cadeia de fornecimento. “É cada vez mais essencial que as PME façam investimento em reduzir o risco, a melhorar a sua maturidade, investindo não só em tecnologia, mas também em processos bem definidos e procedimentos bem implementados”. Relativamente ao tema de compliance, que descreveu como uma “moda” atual a par da cibersegurança e da inteligência artificial, Bruno Castro rejeitou uma visão simplista ou binária da conformidade: “Isto não é on-off, isto não é binário, eu sou compliant NIS2 ou não sou compliant”. Em vez disso, defendeu uma abordagem baseada na maturidade progressiva e na adaptação ao contexto específico de cada cliente: “O tema aqui não é escolher a solução, é escolher como vai ser o modelo de governação do risco versus as minhas obrigações”. Começar pelos processos críticos: um caminho natural para a NIS2Jorge Miranda partilhou, ainda, uma reflexão sobre a forma como as empresas devem abordar a conformidade com a diretiva NIS2, apelando a uma visão mais consciente. “Acho que pode ser importante da forma como nós vamos abordar os nossos clientes”, começou por dizer. Na sua perspetiva, tudo começa com duas definições simples: o objetivo de negócio e a identificação das partes interessadas que interagem com a empresa. O orador defendeu que a tomada de consciência para a conformidade com a diretiva NIS2 pode facilitar um caminho natural ao cumprimento dos requisitos da NIS2, tanto a níveis documentais como tecnológicos e processuais. “As empresas começam-se a preparar para a NIS2 de uma forma natural, começando pelos processos críticos e pelo que é importante para a organização”. Sublinhou ainda que o ponto de partida não precisa de ser toda a empresa: “Devemos definir qual é que é o ambiente, o que é mais importante para a nossa organização, e, a partir daí, tudo se torna mais fácil”. |
Céu Mendonça, da Microsoft Portugal, é a entrevistada principal do Channel ON 2025