2015-7-17

A FUNDO

Cloud Pessoal: o melhor de dois mundos?

O IT Channel propôs-se responder à pergunta: Será possível substituir os serviços da Cloud, como Dropbox ou Google Drive, pela nossa própria Cloud privada em casa ou no escritório?

Cloud Pessoal: o melhor de dois mundos?

 

O aparecimento da DropBox redefiniu o mercado da cloud online, com a oferta de 2GB grátis online e a sincronização automática de ficheiros.
Os documentos que tinham de ser transportados em frágeis pens USB passaram a ser depositados em segurança numa pasta online, protegida por password, acessível a partir de qualquer dispositivo ligado à Internet.
O serviço conveniente explodiu em popularidade, e ultrapassou os 50 milhões de utilizadores em 2011.

Os gigantes Google e Microsoft não tardaram a lançar os seus serviços neste mercado apetecível, com distintas vantagens – capacidade, preço e serviços com valor acrescentado. A Google disponibiliza 15GB e integra o espaço do Google Drive com o Gmail e Google Photos. A Microsoft também oferece 15GB (mais 15 GB para backups de fotografias de smartphone) e integra o OneDrive no Microsoft Office e Outlook.com. Também aliou o seu plano pago de 1TB a uma licença do Office 365, software de subscrição disponível para PC, Mac e iPad por 7€/mês.
A solução da Microsoft acaba por ser a mais vantajosa para esta capacidade de armazenamento, pois tanto Google como DropBox cobram 9,99€ / mês por 1Tb de espaço online, sem extras. No entanto, Google e Microsoft oferecem um plano intermédio de 100GB, mais económico, por 1,99€.

Os serviços de cloud online replicam os dados à escala global e garantem a sua redundância e disponibilidade contínua. Mas por outro lado, quando um utilizador pretende apagar um documento confidencial, não sabe quantas cópias restam disseminadas pela Internet. Nem sabe quem poderá consultá-las do lado do fornecedor de serviço, ou que algoritmos de publicidade ou copyright podem tratar a informação contida nos seus documentos pessoais.

A Cloud Pessoal

Estava criada uma oportunidade para inovar no mercado. A solução que veio responder a esta necessidade chegou pela mão dos fabricantes de NAS (Network Attached Storage).

As marcas mais conhecidas lançaram novas gamas de discos de rede, ligados à Internet, com serviços de software, que materializaram a cloud pessoal.
Os documentos gravados em armazenamento externo passaram a ficar disponíveis na Internet. Passou a ser possível acedê-los a partir de um browser autenticado, ou de uma app móvel.

A nuvem caiu nas mãos dos consumidores, e devolveu-lhes o controlo da sua privacidade. Os ficheiros não saem da casa ou da empresa, e o proprietário não os perde de vista. Os discos podem ser encriptados para obter um nível extra de segurança, e quando o utilizador apaga um ficheiro pode ter a certeza que foi apagado.
Mas as vantagens não ficam por aqui. As altas velocidades de transferência de dados dentro da rede local permitem alojar ficheiros de grandes dimensões, como backups de vídeos e música, nesta cloud.

Algumas das soluções de Cloud Pessoal permitem inclusive ter dois discos rígidos a funcionar em simultâneo, montados em RAID1. A duplicação dos dados a este nível assegura que nunca serão perdidos documentos, exceto em caso de catástrofe, como inundações ou incêndios.
Porém, a Cloud Pessoal não salvaguarda falhas do fornecedor de Internet ou de DNS dinâmico. Se a ligação tiver problemas, os dados ficam temporariamente inacessíveis ou desatualizados no terminal.

 

QNAP TS-152

Dos produtos avaliados pelo IT Channel para criar uma Cloud Pessoal, dois fabricantes destacam-se da concorrência: a QNAP e a Synology.

As appliances produzidas pelas marcas - a QNAP TS-251 e a Synology 214play - integram um sistema operativo baseado em Linux, recheado de funcionalidade. É possível acrescentar ao sistema principal, funções tipicamente desempenhadas por servidores, com a instalação de aplicações adicionais. Tudo é administrado na interface web em poucos cliques de rato, de forma simples e eficaz.

Ambos os produtos têm duas baías de discos rígidos, hot-swap, portanto não é necessário desligar o sistema para os substituir. Os discos podem ser configurados em RAID 0, RAID 1 e JBOD para prevenir avarias.

A verdadeira vantagem destes dois fabricantes sobre a concorrência é a capacidade de sincronização de pastas entre as estações de trabalho, os dispositivos móveis e a Cloud Pessoal. Os dados são mantidos atualizados no servidor, automaticamente – de forma semelhante ao Dropbox. A Synology tem capacidade de recuperar versões anteriores dos ficheiro, e assegurar que os documentos nunca são corrompidos acidentalmente, sofrendo apenas uma ligeira penalização do espaço livre disponível. Ambas as soluções suportam backups de Mac, Time Machine, Rsync, e várias ferramentas Windows e Linux. Todos os dados são protegidos por antivírus, que pode ser ativado na consola de administração.

 

Synology 214play

É possível fazer backups para Clouds externas e para outras Clouds pessoais por descargo de consciência. As Clouds online suportadas são o Google Drive, Dropbox, Azure e Amazon S3 entre outras. A Synology suporta adicionalmente o OneDrive e o Box.

Também é possível adicionar a estes NAS outro grau de redundância conectando uma drive externa por USB. Depois basta premir o botão frontal de One Touch Copy, para copiar os dados para o disco externo.

Estes sistemas também aceitam ligações VPN, Web, Proxy, E-Mail, MySQL, FTP, SSH e Autenticação Windows, comportando-se como servidores apetrechados. Sem ajuda, conseguem autoconfigurar os portos de ligação de rede na gateway de Internet, por UPnP. A oferta de serviços Web é altamente customizável, e inclui plataforma de blog Wordpress, Wikis, fóruns, gestores de conteúdos e lojas online, permitindo poupar nos custos de alojamento. Os sistemas têm um gestor de downloads integrado, com suporte a Web, BitTorrent e FTP.

A função de Media Server destas soluções não foi esquecida, pois suportam um universo notável de TVs, Hi-Fis e consolas para exibir vídeo, fotografias e tocar música. A música também pode ser emitida em formato de rádio online, ou servida em rede sob a forma de uma biblioteca iTunes central. Os modelos TS-x51 da QNAP têm uma saída HDMI, para ligar diretamente aos dispositivos (TVs) e desfrutar de uma experiência multimédia imersiva de alta qualidade. Quando ligado a um sintonizador de TV USB, a QNAP permite ver televisão e programar gravações. Ambos os fabricantes têm presente a funcionalidade de emissão na rede local, para consumir conteúdos multimédia em toda a casa. São suportados os protocolos Apple AirPlay, DLNA, e Plex, para Chromecast e Roku. É possível converter vídeos em tempo real para visualização em smartphones e tablets, na app do fabricante.
Ambas os NAS têm um comando, opcional, para controlar os elementos multimédia.

A Cloud Pessoal dá um toque de conveniência quando é necessário partilhar álbuns com amigos e família na Internet. Ao partilhar, é criado um URL público com um link para o conteúdo presente na Cloud Pessoal, para ser enviado em mensagens instantâneas ou e-mail. Os recetores autorizados podem consultar os álbuns de fotos e vídeos servidos diretamente do NAS.
As Clouds Pessoais da QNAP e Synology integram nativamente com sistemas UPS, e conseguem gerir falhas de energia.

Também gravam vídeo vigilância e transmitem as imagens para o smartphone ou tablet do proprietário. As impressoras também podem ser ligadas à Cloud Pessoal e partilhadas em rede.
A última novidade implementada na QNAP, e no modelo DS713+ da Synology, é o suporte de máquinas virtuais. Estas Clouds Pessoais podem correr sistemas operativos virtualizados Windows e Linux, acessíveis a terminais em rede, através de um browser. Se ligar teclado, rato e monitor na QNAP, o NAS converte-se numa estação de trabalho.

Apesar de ricos em funcionalidade, estes sistemas de Clouds Pessoais são silenciosos e consomem muito pouca energia. Em plena atividade, o consumo elétrico não ultrapassa os 20W e em repouso fica pelos 14W.

Algumas pessoas procuram soluções mais simples. Foi a pensar nelas que a Western Digital, a Seagate e a Lacie lançaram os seus produtos de Cloud Pessoal: o WD MyCloud Mirror, a Seagate Personal Cloud, e a Lacie CloudBox.

Todas estas soluções apresentam-se com duas baías de discos rígidos, que podem ser configurados em RAID0, ou RAID1, com dados espelhados. A entrada USB3 no Western Digital permite expandir a capacidade de armazenamento. Tanto a Western Digital como a Lacie oferecem uma gama ampla de serviços na sua Cloud Pessoal: protocolos de partilha de ficheiros para Mac, Windows e Linux, serviço FTP, downloads HTTP, FTP e BitTorrent e servidor de música iTunes central. Todos os fabricantes suportam backups Time Machine (Mac).

A Western Digital e Seagate têm a opção de sincronizar dados da Personal Cloud com uma Cloud externa, DropBox ou Google Drive.

Todas os NAS avaliados fazem stream de conteúdos multimédia para Smart TVs em rede.

A Cloud Pessoal pode ser acedida de smartphones, tablets e portáteis, através das aplicações dos fabricantes ou de um browser. Basta uma ligação à Internet para consultar todos os documentos atualizados. A Western Digital tem a opção de partilhar links para conteúdos servidos pela Cloud Pessoal. A simplicidade faz destes produtos uma excelente escolha.

O mercado amadureceu nos últimos anos, e consolidou as propostas de armazenamento de rede local. Os NAS, que representavam apenas espaço de armazenamento de documentos e backups, ganharam novas capacidades multiplataforma, multimédia, e passaram a servir redes locais de formas inovadoras, até atingirem o potencial de substituir servidores e estações de trabalho. A ligação do NAS à Internet teve um efeito de transformação que resultou no aparecimento da Cloud Pessoal. As vantagens da privacidade, velocidade, capacidade e da poupança nas contas desta solução, estão a complementar o mercado tradicional de Cloud online, cujos trunfos são a alta disponibilidade, os editores de documentos online no browser e a sincronização de pastas.

Carlos Silva

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