Margarida Bento em 2019-2-25

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As tendências que vão marcar 2019

Este será um ano marcado pela maturação e democratização das tecnologias disruptivas, pelo agravamento da escassez de talentos e pelo papel cada vez mais central da automação nas organizações

As tendências que vão marcar 2019

Estamos a chegar a um ponto em que as tecnologias anteriormente do domínio exclusivo das grandes tecnológicas, ou que eram demonstráveis, mas não escaláveis, vão começar a permear o mercado e a indústria de forma significativa. Mas o facto de a tecnologia estar preparada não significava que o mundo também esteja: desde questões de infraestrutura até à escassez de talentos, ainda há algum caminho a percorrer até estes progressos poderem alcançar o seu potencial.

1. Escassez de talentos limita a inovação

A escassez de talento já não é um tópico novo, e em 2019 vai continuar a agravar-se: segundo a IDC, até 2022, quase um terço dos postos de trabalho relacionados com o IT vão ficar por ocupar.

Esta ausência de talento vai ser particularmente sentido nas áreas relacionadas com tecnologias disruptivas atualmente a ganhar adesão: a inovação tecnológica está a decorrer a um ritmo muito superior à da formação de profissionais habilitados, pelo que tecnologias disruptivas como a IA mantêm “mais arte do que ciência”. Segundo a Gartner, por exemplo, em 2022, 80% dos projetos de IA manter-se-ão no domínio de um número reduzido de pessoas altamente qualificadas, limitando a escalabilidade das soluções IA dentro das organizações.

Este é um problema a abordar em duas frentes: por um lado, no desenvolvimento de competências dentro da empresa e estratégias de retenção de talentos e, por outro, na automação de tarefas repetitivas para maximizar a eficiência de uma força laboral limitada.

2. Edge Computing

Com a proliferação de tecnologias que requerem rapidez de processamento, baixa latência e alta disponibilidade, a adoção do edge computing verá necessariamente um crescimento ao longo dos próximos anos. Apesar de ser o exemplo mais comum, a IoT não é a única tecnologia a impulsionar a adesão ao edge computing – este é cada vez mais um componente vital em customer experience, com tecnologias como os VPA e a realidade aumentada ou mesmo simples aplicações de engagement e omnicanal.

Isto traz consigo implicações para o I&O, tanto a nível infraestrutural e de integração como na cibersegurança e na gestão da escassez de talentos.

O timeframe crítico para a adoção do edge computing pelas organizações é entre 2020 e 2023, segundo a Gartner, pelo que 2019 será um ano vital para a consolidação de soluções e serviços.

3. Os primeiros passos do 5G

Apesar da implementação a larga escala do 5G em Portugal estar planeada para meados de 2020, 2019 verá uma verdadeira vaga de produtos 5G a entrar no mercado, bem como os primeiros passos na transição em outros países.

Em 2018, um total de 72 operadoras em todo o mundo começaram projetos-piloto de 5G. Destas, a Delloite prevê que 25 venham a implementar serviços de 5G nas principais cidades do seu território até ao final do ano.

Em Portugal, estas iniciativas limitam-se por agora a ambientes universitários para teste de projetos, mas as operadoras já começaram a disponibilizar produtos que convertem uma ligação 5G em Wi-Fi, permitindo que os clientes possam vir a usufruir em parte dos benefícios do 5G sem terem de comprar dispositivos equipados para o efeito.

Em termos de infraestrutura, a indústria vai continuar a testar soluções que tomem partido do 5G para criar valor em serviços de redes pré-existentes, mas não é de esperar que isto se traduza em produção de larga escala antes de 2020.

4. IA entra no mainstream

A democratização da IA será em grande parte facilitada pela proliferação das soluções e serviços de IA com base na cloud: segundo a Deloitte, em 2019, 70% das empresas a usar IA irão adquirir estas capacidades através de software empresarial com base na cloud, 65% vão usar serviços com base na cloud para desenvolver aplicações IA. Enquanto as aplicações de IA eram do domínio dos ditos gigantes tecnológicos, esta tendência permitirá que empresas mais limitadas em termos financeiros, infraestruturais e de recursos humanos possam usufruir dos benefícios da IA. Em 2020, a penetração de mercado destas soluções terá ultrapassado os 80%.

Isto só será possível, contudo, se as empresas conseguirem determinar como é que a IA se enquadra na sua empresa e como proceder à sua implementação. No nível de maturação em que se encontra, a IA só pode ser viavelmente aplicada em funções estritamente definidas: cada solução deve ser concebida e treinada para uma única tarefa ou um conjunto restrito de tarefas relacionadas.

5. Blockchain a ganhar tração

Apesar de modelos puros de blockchain não terem ainda a maturidade para serem implementados de forma escalável, é esperado que a tecnologia ganhe balanço ao longo do próximo ano, com projetos-piloto a serem implementados em diversos setores e áreas de atividade.

Prevê-se que 2019 seja marcado pela implementação de projetos de blockchain com base em consórcios, que por seu lado terá um papel vital na maturação destas soluções. Isto traz consigo um conjunto de desafios que não são do foro tecnológico, como o estabelecimento de guidelines legais, de segurança, governance e privacidade.

Segundo a Gartner, até 2022, 75% das blockchains públicas irão sofrer de “envenenamento” por dados pessoais. Dado a evolução rápida da blockchain e complexidade das leis de privacidade, existe um alto risco de os developers inserirem acidentalmente dados pessoais de forma non-compliant. Como estes dados não podem ser apagados sem comprometer a integridade de toda a cadeia, um único erro tem o potencial de causar danos desastrosos – pelo que é necessário estabelecer normas de privacy-by-design na raíz da arquitetura de blockchain.

6. IA na cibersegurança

Com a maturação da inteligência artificial, outra área na qual terá adesão é a da cibersegurança.

É previsto que o volume de eventos de cibersegurança venha a duplicar em 2019. Juntando a isto o facto que muito poucos destes representarão uma verdadeira ameaça, a tarefa de encontrar estas “agulhas no palheiro“ com precisão e de forma atempada torna-se impossível de o fazer manualmente.

No entanto, a Gartner alerta que no nível de eficácia atual, a aplicabilidade do machine learning e inteligência artificial em cibersegurança está limitada às ameaças pré-definidas por humanos – por agora, há que evitar soluções que prometam “descobrir o desconhecido”.

7. VPA no local de trabalho e no atendimento ao cliente

Com a democratização da inteligência artificial e a crescente sofisticação das UI conversacionais, estamos a começar a assistir à verticalização dos VPA e a subsequente emergência dos Virtual Employee Assistants (VEA) e Virtual Costumer Assistants (VCA).

Segundo a Gartner, 25% de todos os trabalhadores digitais irão aderir ao uso quotidiano de VEA até 2021 e, em 2023, 25% de todas as interações de profissionais com aplicações empresariais serão feitas por voz.

Os serviços financeiros e companhias de seguros estão de momento a mostrar o maior interesse em testar estas soluções internamente, e já existem alguns testes- piloto em IT e cuidados de saúde.

Apesar de a maioria dos chatbots atuais serem ainda textuais, a evolução da IA está a facilitar o desenvolvimento de cada vez mais aplicações text-to-voice e voice-to-text.

8. Analítica aumentada

Outra tecnologia disruptiva a entrar no mainstream é a analítica avançada e Big Data, com cada vez mais empresas a procurarem obter insights e identificar oportunidades de negócio, eliminar ineficiências e suportar os processos de tomada de decisões.

No entanto, e tal como a IA, a expansão da analítica não vai tão cedo ser acompanhada pelo mercado de trabalho, limitando a escalabilidade e o próprio valor de negócio das soluções. Isto vem-se a agravar ainda mais com o crescente volume dos dados a serem processados para estas aplicações, dado o tratamento dos dados, não extraindo em si nenhum tipo de informação, é o componente mais trabalhoso do processo de analítica.

É esperado que até 2020 o número de “citizens data scientists” cresça cinco vezes mais que o de data scientists profissionais, permitindo a adoção e escalabilidade da analítica nas organizações de forma mais ou menos independente dos seus recursos.

9. DevOps passam a ser a norma

O Agile & DevOps já não são do domínio exclusivo dos unicórnios, e muito em breve deixarão de ser uma comodidade para se tornarem num requisito de competitividade. À medida que isto ocorre, é esperado ver-se uma consolidação das ofertas de mercado, com apenas um ou dois fabricantes em cada passo da cadeia de valor e a aquisição em larga escala de startups pelas grandes empresas.

No entanto, a cultura mantém-se um fator limitante, segundo a Gartner. Um projeto de DevOps só será bem-sucedido se todos os stakeholders comunicarem e colaborarem entre si. Se continuarem a existir silos na tool chain, e se o foco se mantiver exclusivamente no I&O, o time-to-value das aplicações não chegará para justificar o investimento.

10. Disrupção no I&O

Por detrás de todas as tecnologias estão infraestruturas e, na sua maioria, estas infraestruturas – e as equipas que as gerem – não estão preparadas para a carga adicional. E já não é uma mera questão de disponibilidade: cada vez mais aplicações requerem necessariamente network agility. O foco dos líderes de I&O em 2019 deve estar em maximizar o ritmo das operações de rede com os recursos (humanos e financeiros) à sua disposição.

Esta será outra área fortemente afetada pela escassez de talentos. A Gartner prevê que, até 2020 75% das organizações venham a experimentar uma considerável disrupção relacionada com a escassez de talentos em I&O. Considerando que a oferta no mercado de trabalho e os meios financeiros da empresa não são fatores sob o controlo dos líderes de I&O, o primeiro passo na abordagem deste desafio passa por desenvolver o talento que já esteja ao seu dispor.

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