Jorge Bento em 2025-5-12
Estar minimamente preparado para um cenário de disrupção é algo a que poucos dedicam tempo ou recursos. Mas há quem leve o conceito ao extremo — os chamados preppers, que acumulam bens e treinam para o colapso da civilização —, mas mais insensato ainda será não ter o mínimo necessário para garantir a continuidade durante dois ou três dias off the grid
O apagão de 28 de abril, que não durou mais de nove horas na maioria das zonas do país, mostrou como as grandes cidades rapidamente mergulham num certo caos quando os sistemas falham: primeiro a eletricidade, depois as comunicações, os meios de pagamento nos pontos de venda, alguns alimentos e, para muitos, até a água nas torneiras. O cenário poderia ter sido bem mais grave, não fosse a reposição acontecer ainda com uma réstia de luz solar. Há países onde é obrigatório, por lei, cada cidadão possuir um go kit (para evacuação) e um stay kit (para permanência em casa). É o caso do Japão, Finlândia ou Suíça. Noutros, como os Estados Unidos ou a Coreia do Sul, não sendo obrigatório, faz parte da cultura familiar. Mais recentemente, países como a Suécia, Alemanha ou Reino Unido começaram a distribuir manuais de preparação para situações de crise. Em Portugal, a cultura de preparação ainda é embrionária — tanto entre cidadãos como entre empresas e instituições. Esta edição do IT Channel, dedicada ao Business Continuity, é também um convite à reflexão. Durante as nove horas de blackout, houve coisas que correram mal, outras péssimo — como o SIRESP — e outras que estiveram a poucas horas de serem catastróficas. Mas também houve situações que correram bem, como o core da infraestrutura digital do país; por exemplo, houve sempre rede fixa, e a generalidade dos data centres criticos estiveram sempre operacionais. Para uma organização, como para uma família, mais importante do que ter “equipamento” é investir num plano de continuidade bem definido, treinado e ajustado a diferentes cenários. As ferramentas, soluções e recursos são essenciais para mitigar impactos e acelerar a recuperação — mas são inúteis se não fizerem parte de uma estratégia integrada, compreensível e regularmente testada pelas equipas. Preparar-se não é alarmismo. É responsabilidade. Num mundo cada vez mais interdependente e vulnerável, a continuidade é o novo diferencial competitivo.
Diretor do IT Channel |