Jorge Bento em 2023-11-06
Na estimativa rápida do INE para o Q3, o PIB português encolheu 0,2% em cadeia, o segundo trimestre consecutivo de más notícias para a economia nacional
A previsão dos analistas é que todo o crescimento de 2023 tenha sido gerado apenas no Q1 por um surpreendente aumento do turismo, o que acaba por não ser consistente para a segunda metade do ano. Um indicador simples sobre o turismo é que o concessionário dos aeroportos espera agora que 2023 fique, ao nível de movimentos, em linha com 2019. A vaca leiteira pode ter secado. Ao contrário da narrativa do poder no turno, continuamos a falhar na convergência europeia porque não podemos colocar na média os que já são ricos; temos de nos comparar com os que correm para atingir a média e continuamos a falhar miseravelmente. Felizmente temos a companhia dos espanhóis para não fazermos má figura sozinhos. Volto ao tema do PRR porque é paradigmático da incapacidade do atual poder executivo em produzir resultados práticos no crescimento, mesmo quando os recursos nos são oferecidos. Pela informação do próprio governo, no final de agosto de 2023, estavam executados apenas 17% do PRR, que tem um término em 2026. Durante algum tempo, tive a intuição de que aquilo que se passava era um truque que Maquiavel já se esqueceu e qualquer autarca português sabe: deixar a obra para a segunda parte do mandato. Mas já me desiludi e acredito agora que é mesmo incapacidade do executivo em pôr a máquina do Estado a trabalhar. Não é uma decisão política, é pura entropia. Dos 16,6 mil milhões de euros iniciais, a maior parte é para uso do próprio Estado e das empresas públicas – essa, sim, uma decisão política e errada – e, na execução até agosto, são as empresas que lideram os recebimentos com 715 milhões, o que prova que, mesmo na complexa máquina burocrática das aprovações, são as empresas que são mais ágeis. O Estado não tem desculpa, aliás tem, porque a decisão política foi dar-lhe a maior fatia do bolo e não sabem o que fazer com ela. Se quinzenalmente verificamos que o nome do Dr. º Pedro Passos Coelho ainda continua a ser apontado como justificação para o que corre mal em qualquer área governativa, proponho que para este e futuros governos se transfira a culpa para o D. Afonso Henriques. Assim pode servir para qualquer executivo independentemente da cor política.
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