2015-9-22

ENTREVISTA

“Cada vez mais as pessoas vão trabalhar da mesma forma que vivem”

Google e mobilidade são quase sinónimos. O gigante da web decidiu há oito anos enveredar pelo mercado empresarial, com a Google for Work, para o qual tem uma visão: mais cloud, mais online e mais aplicações com as quais estejamos familiarizados na nossa vida pessoal. Porque, como nos explica Pedro Félix Mendes, Portugal Territory Manager da Google for Work, as pessoas são o motor da transformação digital das empresas

“Cada vez mais as pessoas vão trabalhar da mesma forma que vivem”

Pedro Félix Mendes, Portugal Territory Manager da Google for Work

Apesar de integrada no cluster ibérico, a Google dispõe de uma infraestrutura em Portugal há cerca de dois anos. A Google for Work, área de negócio com oferta inteiramente vocacionada para sector empresarial, é liderada por Pedro Félix Mendes, responsável também pela gestão e o relacionamento com os Parceiros.

IT Channel – A Google nasceu como uma empresa focada no utilizador doméstico. Como se posiciona o mercado empresarial na vossa estratégia de negócio?

Pedro Félix Mendes – É verdade que a Google iniciou a sua trajetória pela área do consumo, mas desde 2007 que somos uma empresa voltada para a área empresarial, na qual temos hoje mais de cinco milhões de clientes, em todo o mundo. Iniciámos a nossa atividade nesta área para trazer para dentro das organizações aquilo que era a nossa experiência de motor de pesquisa. Desde aí, temos vindo a introduzir um conjunto de tecnologias, que passaram pela área da georeferenciação e, mais recentemente, pelas tecnologias Cloud.

O Google Apps for Work é uma dessas tecnologias, e a nossa visão diz respeito à transformação da experiência digital. Isto assenta em dois pilares fundamentais: um mais ligado à parte da brand, a mais visível e mais conhecida da Google; e uma relacionada com a transformação cultural das organizações para o digital. É neste domínio que a Google for Work atua, com a ajuda de ferramentas e de soluções que ajudam as organizações a inovar os seus processos.

Para nós, existem a este nível quatro pilares fundamentais: mobilidade, social,  Cloud e IoT. Aquilo que sentimos que os nossos clientes procuram na Google é a nossa liderança nestes pilares – se não formos o número um em todos, somos pelo menos o número dois.

 

Chegar às empresas é portanto uma prioridade, dentro da estratégia da Google?

Claro que sim. Acreditamos que os nossos clientes só poderão viver e perceber o digital se o abraçarem também dentro das suas organizações. Numa primeira fase, estão muito preocupados em exporem-se às tecnologias web. Mas se essa experiência não for vivida internamente, se os seus processos não forem também transformados e se não forem nativos digitais, essa experiência não é completa. E é aí que a Google se posiciona, tanto na sua vertente mais conhecida como no Google for Work.

Quando nos comparamos com a nossa concorrência, verificamos que eles vêm do on premises, não são nativos do digital. Nós já lá estamos.

Não têm sentido maiores dificuldades, por terem chegado mais tarde a este mercado?

É mais desafiante alterar uma organização que já tem uma base instalada do que alterar uma organização que começa a sua atividade numa primeira fase. Daí que o mercado tenha ritmos diferentes. As pequenas empresas e as startups mais facilmente abraçam as tecnologias Google e começam nativamente connosco. Os estudos que temos demonstram isso. As grandes empresas têm um desafio maior ao nível da transformação e isso leva mais tempo. Mas não é por isso que não temos referência de grandes empresas. Em Portugal temos a Tranquilidade, por exemplo, uma referência no setor segurador e que fez uma aposta muito forte em Google desde 2009.

O Android ainda é visto pelos administradores de TI como um sistema operativo mais vulnerável. Não acaba por ser um obstáculo?

O Android tem uma grande vantagem enquanto ecossistema, por ser um sistema operativo aberto e grátis. Do ponto de vista das empresas, a Google percebeu que é necessário ir um pouco mais além e garantir os níveis de segurança de que as organizações necessitam. O ano passado lançámos a iniciativa Android for Work, integrada na plataforma Google Apps for Work, que também que inclui uma plataforma de Mobile Device Management. Dentro desta, conseguimos ir mais além na gestão dos dispositivos Android. Fazemos encriptação no tráfego de comunicações, ou seja, os clientes poderão ter vários flavours de Android dentro das suas organizações, sendo que a camada de segurança é assegurada pelo Google for Work. Faz uma separação entre o que é o conteúdo nativo que vem do fabricante e que a pessoa utiliza particularmente, daquilo que é o conteúdo empresarial. Neste, todo o tráfego é encriptado. As aplicações que podem ser utilizadas nesses dispositivos são geridas através desta consola, Google Apps for Work.

As organizações podem utilizar, por exemplo, a Google Play para fazerem o deployement das suas aplicações internas, e aqui somos verdadeiramente inovadores. Trata-se de algo que, dentro do conceito da mobilidade, é desafiante: como é que as organizações disponibilizam aos seus funcionários aplicações de forma segura? A Google dá-lhes essa possibilidade  através do Android for Work, que garante a segurança total dos dados, a gestão dos equipamentos e a proteção dos mesmos do ponto de vista do deployment aplicacional.

Como vê atualmente a Google o nosso mercado empresarial e que objetivos tem?

Acreditamos que os gestores portugueses são inovadores e que querem abraçar o mercado digital de uma forma global. Como país pequeno, precisamos expor-nos cada vez mais ao exterior, não podemos ser uma economia fechada, e o digital é a forma destas organizações fazerem este percurso. Sentimos, à medida que vamos ganhando referências, que somos cada vez mais procurados por clientes que procuram ser diferentes. Como disse inicialmente, poucas empresas conseguem dar uma dimensão de digital como a Google, pela parte de branding e de transformação cultural. As empresas ou estão no IT ou estão no branding. Mas nenhuma empresa consegue juntar estas duas capacidades como a Google, às quais acresce outra: capacidade de fazer coisas realmente inovadoras.

Em Portugal pretendemos continuar a crescer e a desenvolver a nossa presença, continuando a criar projetos de referência e tornar Portugal numa referência em determinados segmentos.

Qual o papel dos Parceiros tecnológicos?

A Google tem uma filosofia um pouco diferente em relação às empresas tradicionais de IT. Gostamos de ter Parceiros satisfeitos com as nossas tecnologias e que realmente as apoiem, de forma ativa. Sabemos que é um mercado pequeno e, portanto, não estamos à procura de massificar o número de Parceiros. Temos um número muito limitado, não serão mais de 15 neste momento, e não queremos muitos mais, porque a prioridade é fazer um trabalho muito próximo e garantir que os Parceiros são rentáveis. Não queremos ter Parceiros que não façam uma aposta segura em Google.

Como os apoiam na prática?

Portugal está integrado no cluster ibérico, pelo que partilhamos recursos com as equipas de Espanha. Temos ações de formação regulares e todo um conjunto de atividades de update que vamos fazendo. Temos grandes eventos que realizamos, para os quais convidamos os Parceiros, para que percebam quais são as tendências e para endereçarem o mercado de um modo mais sofisticado.

Uma das nossas estratégias em termos de disseminação de Parcerias teve precisamente a ver com a cobertura total do território português. Atualmente, temos Parceiros que cobrem a região norte, centro e sul e também as ilhas. Em junho terminámos um roadshow em que fizemos exatamente este percurso. Na Google alocamos os recursos humanos que forem necessários onde existirem projetos e necessidade de apoio aos clientes.

Que tendências identificam?

O digital. Estamos muito focados no básico, onde ainda há muito por fazer. Estamos à procura de criar condições, nas empresas portuguesas, para este processo. À medida que sentimos que as empresas estão maduras, vamos querer evoluir. Mas verificamos, aqui dentro e lá fora, que há empresas que continuam a utilizar muita tecnologia on premises. A Cloud e o online não são ainda fator determinante e isto tem um impacto muito significativo ao nível dos custos. Observamos que as empresas continuam a instalar massivamente produtos on premises e isto é um fator inibidor, porque cria bloqueios aos processos colaborativos.

A nossa visão do digital assenta na inteligência coletiva e no online, porque pretendemos melhorar a colaboração, que é hoje fundamental para a transformação digital. Enquanto não conseguirmos que deixem de existir silos nas organizações, não conseguimos atingir outros patamares de desenvolvimento e sofisticação.

 

A mobilidade é o pilar desta transformação...

A transformação terá que passar pelo online e essa é a nova visão: a possibilidade de a pessoa trabalhar em qualquer device, a partir de qualquer lugar. Na Google somos agnósticos do ponto de vista do dispositivo e do acesso à informação. Essa é a nossa aproximação e é para aí que acreditamos que o mercado caminha, do ponto de vista de multiplicar o número de ecrãs. Acreditamos também, e é o nosso lema, que as pessoas cada vez mais vão trabalhar da mesma forma que vivem. E portanto, para nós é uma vantagem sermos uma empresa que vem do mercado doméstico, porque acreditamos que aquelas aplicações tradicionais das empresas, como as conhecemos, que são pesadas e que exigem meses de formação, vão desaparecer. Vão dar lugar a um outro conjunto de aplicações, de fácil utilização. Porque essa é a forma como as pessoas querem trabalhar. E vão trazer para dentro das organizações a sua forma de viver. Esta é a aposta da Google. Cada vez mais, as ferramentas empresariais vão ter a tendência para simplificar-se e vão estar muito mais orientadas para a experiência do consumidor.

 

O que deve fazer o IT para acompanhar esta transformação?

Ainda encontramos um IT muito tradicional, e aspiracionamos um IT mais próximo do negócio e muito mais enabler da sua transformação. Mais focado em potenciar novas oportunidades, em ser um adviser, e menos focado em manter infraestruturas e um conjunto de operações que hoje um conjunto de empresas no mercado – e onde a Google também se posiciona – conseguem fazer de um modo mais eficiente e com menor custo.

Os estudos que temos provam que as nossas soluções de mobilidade conseguem trazer ganhos quatro vezes superiores aos da concorrência, em termos de poupança e de eficiência. Internamente, vivemos a mobilidade e para a mobilidade.

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