Rui Damião em 2020-12-14

A FUNDO

Especial

A cloud híbrida e a multicloud vieram para ficar

A pandemia fez com que a adoção de soluções de cloud híbrida e multicloud crescessem. No entanto, esta não é uma tendência passageira; estas soluções vieram para ficar no panorama das organizações. Alcatel-Lucent Enterprise, Check Point, Cisco, Equinix, IBM, IP Telecom, Lenovo, Microsoft by Tech Data, NetApp by Arrow, Palo Alto e Schneider Electric partilham a sua visão sobre este mercado e as oportunidades para os Parceiros

A cloud híbrida e a multicloud vieram para ficar

A disrupção causada pela pandemia global COVID-19 reforçou a importância crítica das empresas serem ágeis para adaptar a sua capacidade às constantes flutuações e alterações nos seus mercados.

Os analistas da IDC, por exemplo, estimam que, em 2022, perto de 90% das organizações a nível mundial vão contar com uma combinação híbrida de clouds on-premises ou privadas dedicadas, várias cloud públicas e, também, plataformas legacy para corresponder às suas necessidades de infraestrutura.

Uma plataforma de cloud pública oferece às empresas uma infraestrutura de IT ágil que, no entanto, não é necessariamente uma opção apropriada para todos os tipos de trabalho. Assim, a maioria das empresas estão a optar por manter parte dos workloads em cloud privadas.

 

 

Realidade nacional 

A realidade que se observa no mercado nacional podia ser diferente, mas a maioria das organizações está, de facto, a optar por uma combinação de cloud públicas e privadas para dar resposta às suas necessidades.

Luciano Zoccoli, Solutions Architect Data Center Group – Ibéria na Lenovo, sentiu no mercado que, com a pandemia, “houve uma necessidade urgente de muitos projetos cloud serem terminados. Muitos tinham começado, mas tinham os seus timings bem mais longos e foram acabados à pressa; houve a necessidade urgente de terem de trabalhar de casa e isso obrigou muitas entidades portuguesas de avançar e terminar projetos de cloud”. O representante da Lenovo refere, também, que o tema “da digitalização empresarial teve um boost, uma aceleração que, provavelmente, compactou quase dez anos de projetos em quase um ano. Em Portugal também houve muita aceleração, mas cada empresa na sua dinâmica; houve empresas que pararam completamente e houve outras que deram grande importância a ter as soluções”.

Carlos Paulino, Managing Director na Equinix, diz que sentiu este fenómeno “a partir do primeiro minuto em que começamos a trabalhar a partir de casa”. Admitindo que existiram “investimentos significativos dos nossos clientes” internacionais, “o tecido empresarial português teve uma necessidade imediata de maiores larguras de banda, de conseguir ligações à cloud, do que têm on-premises e o que têm connosco ou diretamente na cloud de contratar serviços que lhes permitissem ter uma entrega muita rápida e uma elasticidade em termos de utilização que lhes permitisse fazer frente a todas as novas necessidades que estavam a sentir”. Neste momento, a Equinix vê “as empresas a anteciparem os projetos que tinham para futuras expansões, muitas delas previstas para o terceiro e quarto trimestre do próximo ano, a pedirem capacidade para o próximo quarter”.

Arlindo Dias, Cloud Architect na IBM, indica que “há uma necessidade urgente daquilo que é a adaptação dos modelos tradicionais” a uma nova realidade. “Quando falamos de cloud híbrida, estamos a falar de ser possível expandir as minhas ligações”, acrescenta o representante da IBM. “Há uma analogia simples que é a analogia da calculadora em que, em qualquer momento, se tenho mais cliques no botão de mais, tenho de ter expansão para esse botão mais. Estamos a falar não só das comunicações, mas também de as aplicações poderem expandir a sua capacidade computacional baseada em tecnologias que o permitam fazer para dar resposta” ao que é necessário. “Aquilo que se fala de transformação digital nos dias de hoje tornou-se premente, numa necessidade; não é só ter mais largura de banda, é ter as garantias que, mesmo aquilo que é a componente aplicacional, consegue ser híbrida, estar em qualquer sítio e responder às necessidades que tenho no negócio”.

Pedro Dias, Country Manager na Alcatel-Lucent Enterprise, explica que “a migração para a cloud já era uma realidade entre a nossa base instalada on-premises para modelos híbridos ou full cloud. O efeito da pandemia foi, no nosso caso, muito significativo. Em Portugal, até final de outubro, temos um crescimento de uma unidade de negócio de, aproximadamente, 1.000%. Claramente não é um crescimento normal, não é um crescimento normal em situação de cloud; é claramente motivado, na sua maioria, por este fenómeno da pandemia e da migração de muitos utilizadores para teletrabalho o que veio justificar este crescimento e esta adoção destas ferramentas cloud”.

Apesar de não partilhar tanto o “entusiasmo” de outros participantes, Rui Duro, Country Manager na Check Point, admite que este é, de facto, “um tema que está em cima da mesa, é trendy”, mas “não acho que o crescimento que se tem visto é equivalente aquilo que se tem falado”. “Efetivamente, há movimentações, há a adoção de um conjunto de serviços na cloud, mais de serviços do que movimentação da cloud massiva e dos sistemas para a cloud”, explica o representante da Check Point. “Apesar de em Portugal ter existido uma grande movimentação para o teletrabalho, mas muitas vezes o teletrabalho não significa que seja cloud; é acesso remoto para os sistemas. Fala-se muito na cloud, mas não tenho visto os números que

 


“O segredo é termos uma preparação dos nossos Parceiros, termos uma oferta que lhes permita responder da forma mais adequada ao que são as necessidades e requisitos de cada cliente”.

Pedro Dias, Country Manager, Alcatel-Lucent Enterprise


 

Mudar a infraestrutura

Alterar a infraestrutura de IT de uma organização é um processo complexo. Há vários assuntos, como a segurança, o compliance, o legacy e o próprio investimento necessário, que têm de ser endereçados nesta mudança. Por outro lado, a tecnologia tem vindo a democratizar o acesso à cloud híbrida e tem permitido a conversão do on-premises tradicional.

Ricardo Antunes da Silva, Systems Architect na Cisco, tem visto cada vez mais que “o estágio da cloud não é tanto numa questão de jornada ou de viagem, mas mais um princípio de classificação onde vemos que há componentes que vão ser no tradicional on-premises – como são os sistemas core – que não vão mudar assim tão rapidamente, mas vão existir estratégias de existirem aplicações e serviços feitos deployed cloud only ou cloud-first. A pandemia acelerou este tema porque as pessoas estão mais distantes dos sistemas, permitiu perceber que esse não era um fator crítico e as outras vantagens que dá a flexibilidade ultrapassa esse risco de estar afastado das pessoas e não implica a sua capacidade e qualidade de trabalho”.

“O atual estado da tecnologia está um pouco mais à frente daquilo que é o atual estado da utilização da mesma”, refere Arlindo Dias. O representante da IBM indica que “a dificuldade está na adoção da tecnologia. Neste momento, a adoção de cloud híbrida está numa camada de abstração de quantos kW e metros quadrados precisamos num data center. Esta criação de camadas de abstração que tornam a tecnologia mais utilizável. Podemos criar microsserviços,

podemos utilizar a elasticidade no consumo de aplicações, mas estamos numa camada acima. A conectividade é fundamental, tudo o resto são camadas acima”.

 


Queremos estar ao mesmo nível que o desenvolvimento, não ser um entrave, mas sim parte do processo na análise de código quando se faz o movimento shift left

- Rui Duro, Country Manager, Check Point


 

Filipe Frasquilho, Diretor de Negócio Data Center & Cloud na IP Telecom, explica que, independentemente dos “chavões” que se dão à cloud, “há uma coisa que é fundamental que é existir uma estratégia para a utilização destes vários modelos de cloud. Tipicamente, há um conjunto de questões que têm de ser endereçadas pelas empresas; as organizações ainda acreditam que passam para a cloud e os problemas ficam resolvidos. Há questões que têm de ser endereçadas internamente que são fundamentais. Temos de perceber aquilo que estamos a gerir. Depois é preciso perceber e identificar as componentes de segurança, compliance e governance. Também é preciso fazer a gestão disto, que é fundamental. Por fim, é preciso compreender os SLA”.

João Cunha, Software Business Unit Manager & Cloud Lead na Tech Data, que nesta mesa redonda representa a Microsoft, diz que “se por um lado a adoção de soluções de colaboração foi vertiginosa e a procura cresceu muito, quando analisamos a perspetiva de infraestrutura, a realidade é diferente e é onde está o grande desafio. Esta transformação não é uma transformação fácil e é muito importante e estratégico ter os Parceiros certos fazer um assessment correto do estado atual e para onde se quiser ir. Estas decisões têm de ser muito ponderadas e decidir se mantém uma solução on-premises, ou se escolhe uma solução totalmente em cloud pública ou mesmo híbrida, é algo que tem de ser feito numa perspetiva de quais são os melhores business outcome e daquilo que é preciso fazer”.

Rita Lourenço, Key Account Manager Secure Power Division Iberia na Schneider Electric, indica que “houve um crescimento acelerado nos últimos meses, mas foi um processo que já se observava. A visão que a Schneider [Electric] tem é que este movimento e evolução está a acontecer em todos os segmentos de mercado, seja industrial, retail ou healthcare. O que observamos é uma passagem para um ambiente mais híbrido onde há uma tendência para que os dados sejam armazenados em clouds centralizadas, regionais, e também no próprio conceito de edge que, obviamente, tem as suas vantagens para os vários segmentos de mercado. Este modelo híbrido, e naquilo que é a nossa experiência, é que tem alguns benefícios para as organizações; é um modelo escalável, permite reduzir a latência na gestão quase imediata para tomadas de decisões e aumenta, também, a redundância. O modelo híbrido simplifica todo o processo de negócio”.

João Lavrador, Pre-sales & Partner Enablement Consultant na Arrow, que representa a NetApp neste fórum, refere que “é verdade que ouvimos falar de cloud já há 20 anos; dessa altura para agora há uma diferença abismal na tecnologia. Antes, quando ouvíamos falar de cloud, as pessoas não tinham know-how suficiente, não havia tecnologia ou recursos para permitir esta passagem para a cloud. Mais de 50% das grandes empresas que foram para a cloud, voltaram para o on-premises porque não tinham uma abordagem ou um planeamento para endereçar a cloud. Hoje, já temos isso; as pessoas estão mais educadas e já têm mais tecnologia para planear antes de passar qualquer workload para a cloud. O que quase todos os vendors estão a aconselhar é a utilização de uma cloud híbrida, com alguns workloads dentro de casa e outros na cloud para permitir mais agilidade na forma como o negócio flui”.

 


“A cloud introduziu um conjunto de conceitos que não estão cingidos ao aspeto da cloud que tem a ver com a simplicidade do consumo dos recursos, a agilidade de como isso deve ser feito”

- Ricardo Antunes da Silva, Systems Architect, Cisco


 

Cibersegurança 

É impossível falar de cloud e não falar de cibersegurança, até porque nos novos ambientes híbridos e multicloud os desafios da segurança são multiplicados por vários locais.

Rui Duro refere que “falamos na adoção e no caminho e os fabricantes de segurança adaptaram-se à velocidade que a própria cloud vai evoluindo. Não é por falta de condições de cibersegurança que a adoção da cloud não existe, seja qual for o tipo que o cliente acabe por adotar. Em simultâneo, os clientes têm de criar o blueprint da sua cloud para, depois, aplicar as condições de segurança sobre a mesma. Quando falamos de multicloud, a coisa complica-se um bocadinho porque é um conceito mais lato; podemos falar de uma multicloud que ao mesmo tempo é híbrida ou que vai um pouco além da cloud infraestrutural e ser, também, uma cloud por containers ou por funções. Aqui já temos de usar várias soluções de segurança”.

José Manta, Major Account Manager – Portugal na Palo Alto, indica que “a adoção da cloud é inevitável e não há forma de voltar atrás. A área de desenvolvimento, o chamado DevOps, já com a ideia de cloud-first porque é muito mais rápido e flexível. Para as equipas de segurança, isto tornou-se numa dor de cabeça e uma preocupação bastante grande. Daí, a vertente da segurança está a ser vista com grande preocupação. A estratégia passa por ter uma solução única que consiga ter uma visão sobre qualquer cloud e ser agnóstica a qualquer cloud. A nossa perspetiva ter todos os use cases numa única solução, verificar os pontos de segurança na cloud, seja ele qual for, e ter a proteção dos workloads numa cloud privada ou cloud pública”.

Ricardo Antunes da Silva afirma que a utilização dos diferentes serviços cloud “trouxeram várias superfícies de ataque e é importante ter resposta para endereçar cada uma dessas iniciativas. Uma é assegurar a proteção da identidade do utilizador, outra é proteger osseus dados locais e na comunicação, e também proteger as diferentes entradas ou acessos à informação da melhor maneira possível nos diferentes contextos onde existam e as aplicações vivam. Uma das abordagens mais importantes foi a questão de ter uma componente de visibilidade completa, global, como estamos a fazer para as outras áreas para analisar a informação de forma completa”.

 


A cloud híbrida dá pela primeira vez uma mensagem mais natural porque, pelos requisitos dos workloads, os sistemas vão ter a necessidade de estar distribuídos, com uma proximidade à produção e ao consumo e um sistema centralizado que traz todas as vantagens de elasticidade e de escala

- Carlos Paulino, Managing Director, Equinix


 

João Cunha (Tech Data) diz que “o grande desafio” da estratégia de segurança é “quando se entra numa perspetiva de multicloud. Cada public provider tem a sua arquitetura e estrutura, o seu ambiente específico, e a dificuldade é como, num ambiente multicloud, se consegue ter uma solução transversal e de aplicação de políticas de segurança. O único formato é ter uma solução que permita fazer este controlo e orquestração numa perspetiva abrangente que não seja limitado a um único provider. Neste caso, a Microsoft tem uma solução que permite endereçar este desafio que permite fazer o estabelecimento de políticas e monitorização sobre os vários aspetos de segurança”.

Pedro Dias explica que “a forma como encaramos ou verificamos o impacto da cloud é diferente consoante estamos a abordar a infraestrutura, ferramentas de colaboração ou segurança. Na comunicação, a estratégia de cloud híbrida ou full cloud continua em grande crescendo. Na segurança, uma das principais preocupações que tivemos foi fazer uma Parceria com presença mundial, que nos permitiu garantir um diferencial enorme do ponto de vista de confidencialidade e soberania dos dados. É um dos pontos que, para o cliente na comunidade Europeia, deverão ter em conta quando escolhem uma solução de cloud”.

Rita Lourenço refere que “as arquiteturas híbridas e este acesso ao armazenamento de todos estes dados, combina a questão do edge local. Toda a análise e gestão dos dados críticos, para que a empresa se foque no seu core business, terá de ter esta questão de armazenamento de dados resolvida. Quando falamos nestas estruturas que são altamente complexas, porque envolvem vários providers e localizações, tem de existir uma política de cibersegurança e os processos de standards de segurança têm de estar bem definidos”.

 


“Quando falamos na componente de edge, esta tem de ser aberta e tem de ser fácil para não ter problemas”

- Arlindo Dias, Cloud Architect, IBM


 

Compliance

Assegurar o compliance de um só local não é fácil; assegurar o compliance de um ambiente multicloud, possivelmente com vários providers envolvidos, é uma tarefa ainda mais difícil, principalmente porque é necessário assegurar que todos os fornecedores respeitam o framework legal aplicável.

Carlos Paulino afirma que a cibersegurança e o compliance “são temas importantes”, até porque a Equinix aloja grande parte dos fornecedores de cloud, “e onde centramos a nossa atenção, não só ao ajudar na adoção de conetividade privada, assim como a adoção de soluções private key, por exemplo, que consegue que todo o tráfego vai encapsulado. Tentamos trazer para o mercado uma maior facilidade de consumo em todas as localizações. Existe um sem número de soluções para conseguir que os vários pontos estão cobertos”.

Luciano Zoccoli explica que “todas as infraestruturas que fornecemos têm dado alguma resposta aos requisitos de compliance, particularmente nas questões do armazenamento de dados. É muito importante e, ao lançar novas soluções, obriga-nos a ter todas as questões relacionadas com compliance e segurança, seja na componente de armazenamento e de computação edge. Em soluções de cloud híbrida – apesar de não sermos fornecedores – conseguimos fornecer as arquiteturas para ser compliance dentro de um modelo híbrido ou de data center. Sendo Portugal um país pequeno, temos algumas dificuldades em garantir localizações de cloud; estamos fora de compliance em algumas situações e com alguns clientes não é permitido usar. Temos de inventar em alguns casos”.

José Manta diz que, “nesta área, aquilo que fornecemos é ter visibilidade das infraestruturas e dos dados dos clientes nas diversas clouds, no caso multicloud. Aquilo que conseguimos fornecer são dashboards de como os clientes têm os seus dados e se estão em compliance com aquilo que são as normativas do mercado – como o ISO ou o RGPD – ou os seus próprios frameworks de compliance que eles próprios podem construir. É essa visibilidade e reporting que damos aos nossos clientes de forma a perceberem se estão a cumprir com essas normativas de compliance nas suas infraestruturas na cloud”.

 


“O edge vai permitir ter um desenvolvimento na área industrial, que vai necessitar de uma capacidade de computação adicional e local”

- Filipe Frasquilho, Diretor de Negócio Data Center & Cloud, IP Telecom


 

Rui Duro, da Check Point, indica que “os fabricantes nesta área estão a acompanhar em termos de cibersegurança aquilo que é a evolução da cloud, principalmente a questão da multicloud. É muito importante que os clientes tenham visibilidade do que está a acontecer em dois ambientes que são completamente distintos, se calhar com dois providers totalmente distintos. Aquilo que fazemos é um produto que se foca na governança na cloud e aporta uma série de funcionalidades, como a visibilidade, o compliance da própria cloud; a grande maioria dos cloud providers tem o chamado shared responsability onde é o cliente que tem de assegurar a compliance daquilo que coloca na cloud”.

João Cunha, da Tech Data, refere que o compliance “é uma realidade e uma preocupação desde o início por parte da Microsoft. Aquilo que creio que faz a diferença, é que a Microsoft Azure é o único cloud provider que tem certificado de conformidade do Gabinete Nacional de Cibersegurança. Este tema de compliance para além do genérico, há as especificidades de alguns segmentos onde a Microsoft se tem adaptado e procura visar as questões próprias na gestão de dados. Na realidade, isto é um desafio constante para garantir que as empresas conseguem tomar a decisão certa de qual o provider que lhes dá esta garantia”.

 

Estado da arte

Se existe procura, tem de existir oferta. Os fabricantes estão a investir cada vez mais na oferta de cada vez mais soluções para simplificar a migração, a gestão e a portabilidade dos workloads.

João Lavrador (Arrow) diz que “os clientes estão a adotar modelos mais híbridos e de multicloud e a NetApp não é exceção quando estamos a falar de tecnologia que permite essa passagem de dados para a cloud. Se o cliente quiser ter mais controlo dos seus dados, mais storage, pode colocá-lo num data center e o cliente tem controlo dos seus dados. A qualquer momento, pode mover de cloud provider sem mover os dados porque são dele e estão num data center, ou mover para on-premises onde basta pegar no seu storage e movê-lo para casa. Se o cliente quiser passar os dados para a cloud, existem ferramentas que facilita essa passagem”.

Ricardo Antunes da Silva, da Cisco, indica que “vemos alguns fatores principais para uma transição para a cloud bem-sucedida. A primeira é a consultoria; é muito importante uma noção estratégica para ter um apoio na implementação. O segundo ponto é a integração, onde são precisas ferramentas que nos permitam fazer essa implementação e gestão multicloud de forma eficiente. Em terceiro, é a segurança, que tem de ser transversal, e uma visibilidade completa e capacidade de identificar os vários pontos. Em quarto, é preciso garantir a comunicação entre os vários pontos. Por fim, a otimização; um dos fatores fundamentais é assegurar que temos um esforço mínimo nestes temas, mas também a questão dos custos”.

Arlindo Dias, da IBM, refere que “o compliance é um requisito e cada um ou cumpre, ou não. Existem muitas ferramentas para cumprir com as regras. Temos de garantir segurança e que a cumprir, mas também temos de garantir que temos as soluções e arquiteturas que são abertas para não criar o chamado lock-in. É preciso permitir que as organizações possam tomar decisões com consistência, ou seja, que não estejamos agarrados, presos a algo que não nos permite tomar uma decisão abrupta que tem efeitos na economia e na gestão das empresas. Não podemos estar locked-in. A tecnologia que utilizo pode criar um lock-in que não me permite trabalhar em multicloud”.

Luciano Zoccoli explica que “a questão da estratégia é fundamental, porque quando que remos passar os workloads dentro das empresas para um ambiente cloud”, é preciso fazer “a análise de cada cliente”. A Lenovo defende que “cada cliente tem as suas características. Mesmo utilizando as mesmas aplicações temos formas diferentes de estar. Aplicar um standard pode ser fácil, mas também pode criar problemas. Segundo a IDC, cerca de 30% dos projetos de migração para a cloud não têm sucesso; se isto acontece, é porque alguma coisa correu mal e não está por trás uma estratégia de migração para a cloud. Isso é fundamental para qualquer cliente”.

José Manta, da Palo Alto, partilhando uma visão de cibersegurança, acredita que é necessário “garantir que a segurança do cliente as sociada, de alguma forma, aos seus workloads on-premises acompanham aquilo que são as políticas para a cloud ou para a multicloud e que tenham essa componente assegurada independentemente do que eles adotem ou das migrações que façam de cloud para a cloud. É nessa vertente de cibersegurança que ajudamos na migração e na gestão daquilo que são os workloads dos clientes. Estamos cada vez mais no início do ciclo de desenvolvimento, onde quer que seja que os workloads possam estar”.

Filipe Frasquilho refere que, “em termos de tecnologia, os fabricantes apresentam muitas, muitas soluções, elas existem, mas essas soluções têm de ser adaptadas às necessidades dos clientes. No entanto, a maioria das soluções que existem têm o foco que o cliente per se já tem todo o seu ambiente virtualizado. Ainda assim, há muitos clientes que têm servidores físicos e aplicações alojadas nesses servidores, e aí a situação é mais complexa. Esses workloads, essa forma de migrar não funcionam tão bem quanto isso e tem de existir um apoio muito grande e uma estratégia ao cliente”.

 


“Há uma mudança muito grande e os Parceiros nem sempre têm a capacidade de acompanhar”

- Luciano Zoccoli, Solutions Architect Data Center Group - Iberia, Lenovo


 

Interconetividade 

A cloud híbrida e a multicloud dependem de uma grande interconetividade entre locais. Aplicações como inteligência artificial e Internet das Coisas (IoT, na sigla em inglês) levam a computação até ao edge, até porque a computação se está a tornar cada vez mais descentralizada.

Carlos Paulino indica que “o tema de conetividade é um ponto crítico” para a Equinix. “Posso dar um exemplo de um cliente que temos que queria deslocar mais de três petabytes de informação de uma cloud para a outra. Com a ligação que temos hoje, isto torna-se não num lock-in pelas características da cloud, mas um lock-in porque simplesmente não temos largura de banda para conseguir trazer os dados da Irlanda para Portugal, duplicamos e depois vai para Frankfurt. Há uma falta de capacidade porque estamos nesta periferia e que temos tentado ultrapassar com soluções de conetividade e interligações”.

Filipe Frasquilho, da IP Telecom, concorda que “a comunicação é fundamental” e salienta que, em Portugal, “estamos muito bem servidos em termos de comunicações e a fibra que existe em todo o país para fazer as interligações, mas internamente. O nosso problema tem a ver com a ligação com a componente externa, nomeadamente a restante Europa. É aí que devemos apostar e melhorar as comunicações. Internamente, existe um conjunto de fibras enorme e somos um dos países com mais fibra a nível europeu, mas, lá está, é para consumo interno, é entre nós. Falta-nos as ligações para fora”.

Rita Lourenço, da Schneider Electric, afirma que “estes ambientes de computação edge são muito mais diversificados que requerem um conjunto de subsistemas que dariam suporte a estas arquiteturas cada vez mais híbridas”. Há, também, um “fator crítico de sucesso que é a capacidade de reunir no ecossistema diversos Parceiros, soluções e vendors adequadas para estas soluções híbridas. Habitualmente, estas implementações de edge trazem vários benefícios, como a redução de 35% do custo de engenharia, 7% na manutenção e 50% na implementação” da solução.

Pedro Dias, da Alcatel-Lucent Enterprise, aborda o tema do Cloud Act, dos Estados Unidos, e do RGPD. “Quando falamos com os clientes ou com os Parceiros na escolha de cloud, achamos que é importante que os clientes tenham uma noção clara de alguns pontos porque existe alguma confusão. O facto de os data centers residirem na Europa não é garantia de que a solução preenche todos os requisitos do RGPD. O Cloud Act diz, basicamente, que todos os dados que residam em data centers que sejam propriedade de empresas norte-americanas, estão sob jurisdição norte-americana. Quer isto dizer que basta uma simples decisão de uma entidade legal norte-americana para que essas entidades tenham de fornecer esses dados. Isso é completamente contrário ao que está estipulado ao RGPD”, explica.

João Lavrador, da Arrow, acredita que “o mais importante é existir uma Parceria com os cloud providers. Depois, é preciso dotar de tecnologia que permite aos clientes escolher onde querem colocar os seus dados. A estratégia da NetApp permite ter um serviço em qualquer uma das clouds e ter um acesso privilegiado aos três principais cloud providers – Google, AWS e Azure. A questão da conetividade está facilitada para os clientes, mas também temos Parcerias com os Parceiros locais que permitem ter tecnologia muito forte e facilitar este caminho para os clientes”.

 


“O maior desafio dos Parceiros é a capacitação. O know-how e acompanhar a velocidade a que as coisas estão a mudar”

- João Cunha, Software Business Unit Manager & Cloud Lead, Tech Data


 

Oportunidades para os Parceiros 

Como nos vários temas que o IT Channel aborda ao longo do ano nas suas mesas redondas, existem várias oportunidades para os Parceiros no mercado de cloud híbrida e multicloud. Por exemplo, a cloud híbrida volta a colocar oportunidades de infraestrutura e de integração aos Parceiros.

Pedro Dias (Alcatel-Lucent Enterprise) refere que o tema da cloud híbrida “não é muito diferente de muitos outros relacionados com a componente de IT. O segredo é termos uma preparação dos nossos Parceiros, termos uma oferta que lhes permita responder da forma mais adequada ao que são as necessidades e requisitos de cada cliente”. O responsável salienta, ainda, que os clientes não são todos cloud híbrida e, por esse motivo, é importante ter soluções para as várias necessidades. Neste processo, é importante “que os Parceiros estejam preparados, junto do cliente, para ajudar, perceber os requisitos, construírem, implementarem e manterem, do ponto de vista de serviços, a solução mais adequada às necessidades de cada um dos clientes”.

Partilhando uma visão mais focada na cibersegurança, Rui Duro afirma que a Check Point tem desenhado ou adquirido produtos

que permita à empresa ser um facilitador de cloud e não “a tradicional visão da cibersegurança que atrasa a evolução; neste caso da cloud, queremos estar ao mesmo nível que o desenvolvimento, não sermos um entrave, mas sim parte do processo na análise de código quando se faz o movimento shift left”. No caso das clouds híbridas, a Check Point “disponibiliza é, também, uma solução que vai de encontro às necessidades. Quer seja on-premises, quer seja na cloud ou em mais do que uma cloud, oferecemos soluções que o cliente pode integrar dentro da sua solução cloud e, depois, conseguimos fazer a gestão da segurança, ter visibilidade da cloud – um aspeto muito importante – e também a governação dessa cloud”.

Ricardo Antunes da Silva mostra-se confiante no modo como os Parceiros da Cisco estão a adaptar-se a esta nova realidade. “A cloud introduziu um conjunto de conceitos que não estão cingidos ao aspeto da cloud que tem a ver com a simplicidade do consumo dos recursos, a agilidade de como isso deve ser feito. Isso tem uma dependência muito grande de como os nossos Parceiros vão permitir o consumo das soluções. O nosso papel, acima de tudo, é dar a esses Parceiros boas soluções com uma grande capacidade de facilidade de implementação, configuração e operação e, também, estar focado muito na ideia de que dar grande resultado da experiência do utilizador daquela aplicação. Esse tem sido um foco muito grande”, explica.

 


“São os Parceiros que forçam a nossa posição no mercado e conseguem ajudar os clientes neste caminho para a cloud”

- João Lavrador, Pre-Sales & Partner Enablement Consultant, Arrow


 

Carlos Paulino indica que a cloud híbrida “dá pela primeira vez uma mensagem mais natural porque, pelos requisitos dos workloads, os sistemas vão ter a necessidade de estar distribuídos, com uma proximidade à produção e ao consumo, e um sistema centralizado que traz todas as vantagens de elasticidade e de escala”. No caso da Equinix, o responsável afirma que a empresa consegue ser a infraestrutura de base tecnológica que aproxima os dois mundos.

Arlindo Dias (IBM) clarifica que “há um desafio que é objetivo: não conseguimos ter comunicações mais rápidas do que a velocidade da luz; é o que temos e temos de aprender a viver com isso. Quando estamos a falar de edge, vamos colocar aplicações, vamos estar preocupados com o storage… é tudo uma decisão de arquitetura. Quando falamos na componente de edge, esta tem de ser aberta e tem de ser fácil para não ter problemas quando salto de um edge para o outro edge”.

Filipe Frasquilho (IP Telecom) mostra-se confiante de que “o edge computing vai trazer um conjunto de oportunidades aos Parceiros. Temos Parceiros tecnológicos e os Parceiros que fazem managed services e Software-as-a- -Service na nossa cloud e achamos que o edge computing vai permitir ter um desenvolvimento principalmente na área industrial, com o IoT, que vai necessitar de uma capacidade de computação adicional, local e que, depois, vai ter de se concentrar em data centers de tamanho menor e, provavelmente, depois em soluções que sejam de vários países na multicloud”.

Luciano Zoccoli relembra que todas as soluções que a Lenovo lança no mercado são baseadas em Parcerias, seja da componente da solução em si, seja na apresentação do produto ao mercado. O representante da Lenovo indica, também, que “com o desenvolvimento tecnológico a que estamos a assistir, não é fácil acompanhar sempre tudo o que acontece; há uma mudança muito grande e os Parceiros nem sempre têm a capacidade de acompanhar”. Neste sentido, a Lenovo “integra os componentes que os Parceiros tenham nos projetos”. A cloud híbrida dá, também, a possibilidade de os Parceiros venderem algo diferente, que não apenas cloud, que “dá espaço para outra tipologia de intervenção que os Parceiros possam ter neste tipo de projetos”.

 


“Esta é uma grande oportunidade para os Parceiros, não só na revenda, mas também, nos serviços que podem prestar aos clientes finais”

- José Manta, Major Account Manager - Portugal, Palo Alto


 

João Cunha (Tech Data) indica que “o maior desafio dos Parceiros é a capacitação. O know-how e acompanhar a velocidade a que as coisas estão a mudar é o verdadeiro desafio e um dos grandes focos da Tech Data e da Microsoft”. Dar formação constante e o foco na certificação tem de ser uma preocupação dos Parceiros, até porque “a cloud, multicloud, é muito complexo; é praticamente impossível uma empresa conseguir endereçar estes pontos todos”. Depois, é também importante a especialização para dar resposta às necessidades dos clientes.

João Lavrador (Arrow) reforça que a NetApp trabalha exclusivamente com uma rede de Parceiros. “Socorremo-nos dos Parceiros para chegar aos clientes e é muito importante manter este nível de Parceria com os técnicos com o máximo de formação possível”, explica. “A Parceria é um fator importantíssimo; são os Parceiros que forçam a nossa posição no mercado e conseguem ajudar os clientes neste caminho para a cloud. Sabemos que muitos dos clientes ainda não têm essa estratégia e é aí que os Parceiros podem ajudar”, indica.

José Manta (Palo Alto) não tem dúvidas de que “esta é uma grande oportunidade para os Parceiros, não só na revenda da tecnologia, mas também, principalmente, nos serviços que podem prestar aos clientes finais”. A totalidade do que a Palo Alto vende aos seus clientes finais é através dos seus Parceiros, ou integradores, e “não há dúvida que os Parceiros mais tradicionais da área da segurança tiveram de se adaptar e vão ter de se adaptar, é esta a nova realidade. Vão ter de ganhar outros conhecimentos para estarem dentro destes projetos de cloud”.

 


“É um novo desafio e um novo mundo e tem de existir uma adaptação constante dos Parceiros”

- Rita Lourenço, Key Account Manager Secure Power Division Iberia, Schneider Electric


 

Rita Lourenço (Schneider Electric) salienta que há um ponto comum: “nada disto é possível sem Parcerias”. Assim, com todos os desafios que os clientes têm, assim como a complexidade das soluções, “aquilo que a Schneider Electric defende é uma solução conjunta que passam por Parcerias com empresas de nicho com expertise bastante focados, Parcerias locais com integradores de sistemas e, depois, Parcerias com Global Alliances. Só assim é possível endereçar estas questões tão complexas”. No caso dos Parceiros e integradores “é um novo desafio e um novo mundo e tem de existir uma adaptação constante dos Parceiros. Por outro lado, há muitas oportunidades que não é apenas a venda da solução”, mas também do aconselhamento da melhor opção e da manutenção do cliente.

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