2017-3-29

HARDWARE

Que futuro para o PC?

O ciclo de adoção de PCs é agora mais longo e só no mercado empresarial as vendas continuam a aumentar. Mas, afinal, o que reserva o futuro para o PC?

Que futuro para o PC?

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À primeira vista, os números não são animadores: em 2016, segundo a Gartner, o mercado mundial de PCs caiu 5.9%, num total de cerca de 270 milhões de unidades comercializadas. No entanto, o cenário é mais positivo no mercado empresarial, que na EMEA, por exemplo, registou um crescimento do número de unidades vendidas no último trimestre de 2016, devido a um alavancar das implementações de Windows 10 no mercado empresarial.

A consultora prevê, aliás, um novo fôlego para o mercado de PCs, sobretudo a partir de 2018. Ranjit Atwal, research director na Gartner, lembrava, aquando da libertação dos números relativos a 2016, no início deste ano, que “o mercado tem registado uma tendência negativa desde há cinco anos”, período durante o qual encolheu 25%. “Está a atingir o seu ponto mais baixo e esperamos que avance a um ritmo constante à medida que as empresas, ao invés dos consumidores, comecem a renovar os seus PCs”.

Tal acontecerá devido a um número crescente de migrações para Windows 10 e à consequente necessidade de renovação do parque informático, mas também para dar resposta às novas formas de trabalhar dos colaboradores, pelas quais a mobilidade é condição sine qua non. Segundo Joana Pires, diretora de negócio Windows e Devices, na Microsoft Portugal, o atual paradigma de transformação digital “integra a estratégia das empresas, a curto ou médio prazo” e os PCs “vão evoluir a par e de forma a servir este caminho – são, aliás, uma extensão do próprio utilizador em cenários de maior mobilidade profissional e colaboração e terão de responder a evoluções, tanto nessas áreas como a nível de segurança”.

A Microsoft tem sentido por parte das empresas a necessidade de renovar o seu parque informático, “não só pela melhoria de produtividade dos colaboradores com o Windows 10 mas também para facilitar cenários de mobilidade e pela necessidade de ter uma maior resposta às ameaças modernas”. O Windows 10 reforçou a resposta a estas ameaças e tem algumas funcionalidades “que requerem hardware compatível”.

Caraterísticas que farão a diferença

O que os utilizadores procuram num PC também mudou. Caraterísticas como espessura, peso e duração da bateria são hoje determinantes para os profissionais que pretendem a melhor experiência possível em frente a um ecrã, a par de conetividade em qualquer parte para poderem aceder e partilhar documentos via cloud (mesmo sem acessibilidade Wi-Fi). Se tivermos em conta que os millennials estão a invadir o mercado de trabalho e que são heavy users de smartphones, faz sentido pensar que os ecrãs táteis vão impor-se cada vez mais.

“O posto de trabalho continua em evolução”, salienta Pedro Coelho, responsável da categoria de computação profissional da HP. “Existem novos formatos que adicionam valor ao desktop ou ao portátil tradicional, como as versões mini (PCs compactos) ou os portáteis destacáveis, mas não é possível determinar qual o formato vencedor”. Pedro Coelho realça que “cada qual traz benefícios diferentes” e que “serão selecionados consoante o perfil do utilizador ou o contexto em que este recorre ao seu PC”.

Ainda assim, haverá caraterísticas que farão cada vez mais sentido: “Interfaces mais naturais como touch ou pen; funcionalidades acrescidas de segurança em cenários de grande mobilidade; tecnologias que suportem a utilização crescente de ferramentas de colaboração (como o Skype ou Webex, entre outras), porque os colaboradores precisam de entrar em ambientes de conferência virtual rapidamente e com uma boa experiência de som e vídeo”.

Também João Dessa, sales manager B2B Portugal da Toshiba, aponta “a mobilidade com incremento de funcionalidades de segurança” como “o vetor orientador do mercado, qualquer que seja a dimensão do ecrã”. Assim, na visão do fabricante nipónico, “os portáteis híbridos, convertíveis ou destacáveis terão uma procura cada vez maior no futuro próximo”.

Já a Lenovo indica que, cada vez mais, “produtos e inovações serão desenvolvidos com base em insights sobre o cliente e para dar resposta a necessidades específicas dos utilizadores finais”, aponta Rui Gouveia, channel account manager da Lenovo. “Duração da bateria, conetividade e segurança representam as três principais tecnologias em que os clientes empresariais pensam mais. São cada vez mais os negócios que procuram os dispositivos convertíveis e destacáveis para serem mais produtivos e flexíveis do que nunca”.

Rentabilidade está nos ultramobile premium

Segundo a Gartner, a procura por novos form factors premium, como os tablets híbridos, ou dois-em- -um, e os modelos mais finos e leves, com baterias de maior duração, está a crescer a um ritmo elevado. Não por acaso, é precisamente nos modelos ultramobile premium que as marcas estão a apostar cada vez mais. Em 2019, a consultora prevê que este segmento seja o maior do mercado de PCs no que diz respeito às receitas, 57.6 mil milhões de dólares, e que este segmento continuará a crescer em virtude da substituição dos PCs tradicionais e da experiência touch que os dois-em-um (tablets e híbridos) proporcionam.

“Os PCs continuam a destacar-se em áreas em que os smartphones e tablets não conseguem, com ecrãs maiores, teclados mais ergonómicos, maior capacidade de armazenamento e processadores mais poderosos”, refere Tracy Tsai, research vice president na Gartner. Este segmento é também mais rentável, alerta a analista: as margens, para os fabricantes, podem ascender aos 25% num PC ultramobile premium que custe em torno de mil dólares ou mais.

“Assistimos ao crescimento de PCs híbridos, incluindo convertíveis, assim como aqueles que chamamos premium – design de topo – com melhor desempenho e todas as novas funcionalidades do Windows 10”, confirma- Joana Pires. “Também começamos a ver maior oferta no mercado de equipamentos com caneta digital e interface tátil, excelentes em cenários de mobilidade de forças de vendas, para equipas operacionais ou desmaterialização de processos, como por exemplo a assinatura digital de contratos”.

Dispositivos dois-em-um mais inovadores levarão, portanto, não apenas a uma substituição do PC, mas a um upgrade para dispositivos com mais funcionalidades e maior flexibilidade. A Gartner alerta ainda para a oportunidade que a Internet of Things (IoT) proporciona, insistindo que os próprios fabricantes devem contemplá-la e identificar as áreas onde existe maior rentabilidade. A IoT poder ser a chave, por exemplo, para melhorar a experiência do cliente e da utilização do próprio dispositivo. “Os fabricantes podem detetar, com recurso a sensores, se a bateria está a aquecer demasiado ou se o disco rígido está em esforço. Os sensores podem emitir um alerta a avisar os utilizadores para a urgência de fazerem um diagnóstico aos seus PCs antes destes, subitamente, se desligarem”, refere Tracy Tsai.

PC-as-a-service

A questão da propriedade do PC é um dos temas que promete tornar-se mais relevante nos próximos tempos. A Lenovo e a HP são dois dos fabricantes que já têm ofertas de PC-as-a-service, um modelo que assenta no aluguer e não na aquisição do hardware. Em julho, a marca norte-americana anunciou um novo serviço, o HP Device-as-a-Service (DaaS) em Portugal, que disponibiliza através do Canal de Parceiros e que consiste numa subscrição mensal por posto de trabalho, com o objetivo de melhorar a gestão dos equipamentos e de libertar recursos de IT.

“O DaaS é mais uma opção para aquisição dos equipamentos. Prevemos que a médio prazo este modelo ganhe maior expressão no mercado empresarial, mas continuará a conviver com o modelo tradicional de aquisição”, sublinha Pedro Coelho. “A adoção por DaaS ocorrerá onde os ganhos sejam facilmente visíveis e com um ROI assegurado num curto espaço de tempo”.

Num artigo publicado no site Tech.pinions.com, Tom Mainelli, vice-president de dispositivos e mobilidade na IDC, escrevia em julho de 2016 que “um número crescente de empresas procuram explorar os potenciais benefícios do modelo de PC-as-a-service (PCaaS)”, tema que a IDC tem estado a investigar, inquirindo decisores de IT e falando com os principais players da indústria. Escreve Mainelli: “Esta tendência tem, se desenvolvida de forma conveniente, potencial para ser mutuamente benéfica para clientes e indústria”.

O analista esclarece, ainda, que “o Device-as-Service serve o hardware, em si” e que “os planos variam, mas tipicamente incluem implementação, gestão, serviços e eventual reciclagem do equipamento no seu final de vida”. No início de 2016 a IDC inquiriu, no mercado norte- -americano, um grupo de decisores de IT de empresas de diversas dimensões, e descobriu que cerca de 25% já estavam ativamente à procura deste tipo de serviços. Quem ainda não estava, reporta Mainelli, planeava fazê-lo nos próximos 12 meses (ou seja, ao longo de 2016).

Entre os principais benefícios identificados pelas próprias empresas, destacavam- -se três: possibilidade de implementar apenas os PCs necessários com base em cargas de trabalho; passar de um modelo CAPEX para OPEX; e reduzir as cargas de trabalho de IT, pela delegação da gestão em terceiros. “O acesso às tecnologias mais recentes, a previsibilidade dos custos e a escalabilidade para diferente patamares, consoante as necessidades de cada empresa, tornam este modelo apetecível”, realça Pedro Coelho.

João Dessa frisa que “esse será claramente o modelo adotado”, dado que “o custo de propriedade cai drasticamente, com o modelo de pagamento por utilização a ajustar-se perfeitamente à cloud, privada ou pública”. Para a Lenovo, este modelo “oferece a determinados tipos de negócios a liberdade para reduzir custos de suporte, mantendo a escalabilidade da sua infraestrutura de IT”, segundo Rui Gouveia. “Optar pelo pagamento mensal que abranja PCs, periféricos, implementação e suporte pode oferecer vantagens claras na gestão das despesas de operação e flexibilidade.

A Lenovo continua a avaliar todas as opções para clientes e trabalhará de perto e individualmente com cada negócio para avaliar qual o melhor método de aquisição e gestão de IT”. João Dessa frisa que “um estudo recente da IDC mostra que já em 2017 mais de 10% das empresas em todo o mundo adotaram o modelo PCaaS”, sublinhando as vantagens do modelo: “Também conduz à redução dos custos, de manutenção, acompanhando o ciclo de vida do hardware ou ainda, por exemplo, backup de dados, atualizações de software e criação de máquinas virtuais”.

Computação na cloud

Os smartphones são, hoje, pequenos computadores de bolso – têm processadores, memória, armazenamento, sistemas operativos e aplicações. A verdade, porém, é que não são amigos da produtividade. Têm, ainda, o problema do controlo sobre a informação empresarial que circula dentro e fora da empresa, que é hoje imperativo para o IT, que já não tem por prioridade gerir o hardware mas os dados.

No atual contexto empresarial, com a cloud a ganhar protagonismo crescente e o custo-benefício a ser imperativo, há quem defenda que começa cada vez mais a fazer sentido considerar um outro tipo de dispositivos, os thin clients móveis, uma evolução do modelo tradicional de thin client do desktop, mas neste caso para os PCs, onde tanto a HP como a Toshiba têm estado a apostar e que pode agora levantar voo. O fabricante nipónico foi mais longe e lançou no verão de 2016 a solução Toshiba Mobile Zero Client, solução móvel compatível com Citrix e VMware, passível de ser configurada em todas as gamas dos seus notebooks empresariais, baseada no conceito thin client, transformando cada PC num terminal virtual servido a partir da cloud e que não exige alteração à infraestrutura de IT da empresa.

“Trata- -se de uma solução que permite aos colaboradores trabalharem com total mobilidade, incrementando de uma forma robusta e inequívoca os padrões de segurança”, adianta João Dessa. Soluções deste género facilitam a gestão do dispositivo, por parte do IT, e proporcionam maiores níveis de segurança e poupança no atual contexto da mobilidade empresarial, contribuindo assim para uma redução dos custos associados, desde licenças de software a soluções de cibersegurança, entre outros.

A escalabilidade, fiabilidade, controlo e uniformidade dos thin clients móveis tornam estes dispositivos apetecíveis para o IT, acompanhando a própria mudança de paradigma que está a ocorrer ao nível da computação – de cliente-servidor para computação baseada na cloud, pela qual os dados estão disponíveis e são geridos, protegidos e replicados em qualquer dispositivo, a qualquer momento, através de ligações wireless.

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